quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

MISÉRIAS BURGUESAS

Muitos "manos" - usuários e traficantes - desconhecem Eastwood e Bronson. Conheci muitos que falavam sobre o segundo pela letra do Diário de um Detento sem nunca ter visto um único filme dele ou ao menos saber que se tratava de um ator. De fato, Bronson está longe de ser dos melhores atores e sua obra, com poucas exceções, pode ser considerada até irrelevante, contudo, diante da sua popularidade "hollywoodiana" - enlatados de apelo altamente comercial - podemos perceber a pouca penetração e/ou quase nula importância do cinema na formação cultural dos nossos jovens. Na minha época - eu tenho 35 anos -, o cinema e, sobretudo, Hollywood, tinha uma grande importância na construção do imaginário coletivo. Grandes atores e personagens de filmes famosos ou emblemáticos serviam-nos como referenciais de conduta ou ideais - hoje muitos não passam de uma paródia ou caricatura do que foram um dia e/ou no muito servem como modelo de um padrão estético paranoico e de gosto duvidoso. A constatação é que os jovens não tem mais referencias e/ou heróis. As relações são outras, o jovem que se identifica com este ou aquele astro da musica, do esporte ou da televisão subordina-se a interesses comerciais que determinam padrões de consumo. É o triunfo do consumismo sobre a produção, do individualismo sobre a cidadania. Pouco importa o que o ídolo faz ou pensa - se pensa -, importa o que ele representa em termos de consumo - o que ele veste, come, usa. É a luta insana do individuo na busca por se destacar enquanto tal na sociedade. A luta de todos contra todos. Esses são os valores do capital - competir e vencer -, por isso os ideais humanistas e socialistas sejam desconsiderados, ignorados e desdenhados por setores sociais e o Estado autoritário. Talvez seja por isso que um certo "Capitão Nascimento" - torturador, fascista, autoritário, recalcado, etc - seja considerado o "herói" do momento da classe média e das periferias que com ela se identificam. Os heróis dos jovens e adolescentes que conheci e convivi na ultima década e meia estão no rap e no tráfico. Entretanto, o rap consciente e engajado - existe o tolo e inconsequente - exige compromisso, conhecimento, aprofundamento e senso critico, portanto é pouco compreendido e aceito. Já o inconsequente e o tráfico.......

É lamentável, mas, o que se percebe é que a sétima arte e todas as outras seis  não tem importância alguma nessa nossa sociedade consumista, individualista e imediatista. Não se trata apenas dos jovens das periferias, pior é a histórica e perene indigência cultural que se verifica junto as elites e a classe média. Basta verificar as conversas, hábitos e gostos dos nossos jovens nas redes sociais, boates/barzinhos,  escolas, universidades - consumo, vaidade e ostentação em profusão pronunciadas na primeira pessoa do singular. Vivemos a época gloriosa da internet e da tecnologia que nos permite interagir e vislumbrar o mundo! E assim constatamos por meio de pesquisas recentes que somos  os campeões em utilização de "redes sociais", "jogos virtuais", sites de pedofilia e pornografia na rede!

Atualmente a democracia de mercado proclama a primazia e o postulado do consumo equivalente - ou superior - a cidadania.  Inauguramos o século XXI entre os cinco países com o maior numero de analfabetos, porem, temos mais telefones celulares do que habitantes e pagamos as maiores tarifas e taxas em telefonia e internet do mundo. Somos ainda o 53º colocado em um ranking de 65 países que mede o nível de conhecimentos em matemática, literatura e ciências dos nossos estudantes do ensino médio e fundamental - PISA / OCDE 2010. Estamos a época da internet, da comunicação em tempo real em que tudo deve ser over e todos full time. É o apogeu do surrado "time is money", época em que a informação também deve ser fast e por isso falta "tempo" e, sobretudo, paciência para "perder" trinta minutos com um livro ou duas horas com um filme. Não vou entrar nos meandros da história ou da política para explicar ou justificar toda essa situação, o objetivo mais do que compreender é transformar. Evidente que não se transforma sem a devida compreensão, contudo, o foco aqui é outro; não é pensar, antes agir e, nesse sentido, penso que a primeira ação deve ser elevar o nível - da educação, da cultura, da crítica, do debate, das iniciativas, politicas e projetos sociais. Explico. Em 2006 conheci um fotografo, um ativista social e um ator/rapper no RJ - Mauricio Hora, Cristiano Magalhẽs e Thogun - que pensavam as ações sociais a partir do ponto de vista das comunidades - seus interesses, valores, demandas, etc - e não daquilo que eles ou as instituições julgavam conveniente para eles - muito menos o mercado. A periferia possui sua própria linguagem ou expressão, é fato, mas, isso não significa que se deve restringir-lhes o acesso - por preconceito, ignorância, indolência ou indiferença - a outras formas de expressões artísticas/culturais. Fato é que não interessa aos donos do poder e nem a burguesia intelectualoide que o lumpen ou o sub-lumpen se emancipem, antes continuem dependentes e agradecidos. E aqueles que não pensam assim, como os camaradas citados, devem enfrentar o escárnio, o desprezo e a soberba dos proprietários do capital ou dos sócios-saqueadores do fundo publico. Para finalizar, é bom que se diga, "a liberdade e à vida, só faz jus quem tem que conquistá-las diariamente." (Goethe)

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