sábado, 15 de outubro de 2011

Inferno

Estive uma temporada no inferno.
No inferno das palavras.
Palavras vãs, vazias, tolas, presunçosas.
Excentricidades sem importância para extravagantes.
Estive uma temporada no inferno.
No infinito do vazio das palavras e das coisas.
O inferno é repleto de esperanças, promessas, expectativas.
Ilusões, mentiras. 
Nunca mais escreverei para os grandes. 
Eu não falo com os grandes. 
Pro inferno os grandes. 
Cristãos, altruístas, especialistas, juristas, depravados, indecentes. 
Pesquisadores, sociólogos, advogados, médicos, psicólogos, assistentes sociais, policiais, padres, terapeutas, cineastas.
Incontáveis listas de discussão, incontáveis seminários, congressos, simpósios, conferencias.
Indizíveis aplausos, prêmios, celebrações, cerimônias.
Incontáveis inúteis e infames soberbos. 
Eu estive uma longa temporada no inferno.
O inferno é um lugar em que não se pensa, não se pode pensar. 
Superficial, artificial, massificante. 
O inferno não aceita a originalidade, a ousadia, a critica, a revolta. 
O inferno é uma longa repetição, uma eterna louvação, uma infinita reprodução.
Uma cópia mal feita e tosca daquilo que existe. 
O inferno é uma realidade distorcida, rasteira, afetada.
O inferno são as palavras vãs, a retorica, a tautologia.
O inferno é o triunfo do inútil, do medíocre, do fausto. 
Havia uma menininha tomando sorvete.
Cabelos longos, lisos, rosto redondo de bebe. 
Ela não me encarou e nem encarava ninguém.
Estava insegura e desconfiada como se sentem os inocentes nesse mundo. 
Apenas olhava e tomava o seu sorvete. 
O trafico acontecia na sua frente.
Sua mãe soltou a sua mão e pediu para ela ficar ali.
Ela ficou na sua inocência de 4 anos.
Sua mãe pediu para o traficante dar as pedras rápido para que a criança não visse.
O padre também não vê, nem o advogado, o jurista, os especialistas, políticos, policiais e os pesquisadores e altruístas. 
Isso acontece todos os os dias, em todos os lugares, em todos os horários, todo o tempo.
Foram-se de mãos dadas.
Fui-me profundamente triste, indignado, revoltado, enojado, impotente.
A audiência publica, o congresso, o seminário, o especialista, o jurista, o policial, o padre são inúteis, indecentes, imorais, repugnantes.
Acabou o café, será que eles aceitam chá?
Acabou o açúcar, mas tem adoçante!
Aplausos, abraços, cumprimentos e sorrisos.
Discrição, sobriedade, parcimônia.
O inferno é o silencio, a omissão, a negligência.
O inferno é vaidade, indiferença, covardia, cinismo. 
Eles são o inferno. 
Nada dizem as mais simples, inocentes e puras das criaturas. 



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