terça-feira, 14 de outubro de 2014

Paranóias

Acender, apagar, consumir, consumir-se. A brasa queima e não acende. Trinta reais em um cigarro mal feito. Quatro ou cinco tragos. Cinco minutos de tentativas, expectativas e raiva. Cotidiano do vício que escapa as teorias e o mantém. Ele tenta acender. Consegue. O cigarro queima torto - parte de baixo queima e a de cima não. Abre, trinta reais jogado no lixo. Insignificâncias do cotidiano de um viciado que o prendem a ele por cadeias práticas. A literatura do vício explica aquilo que o viciado vive e por viver não suporta aceitar - ainda que entenda. Arriscou a vida, a liberdade, a dignidade, privou e privou-se daquela quantia e não pode aceitar perder sem consumir plenamente  o produto adquirido. Não consumiu. Perdeu. E com ele a longa noite, a pouca dignidade, o ínfimo amor próprio, a inútil razão e a tola paz.  Assim fecha-se o circulo do vicio. E o mais não cabe no caos da vida do vício, pertence ao mundo ordenado da ciência e da sociedade. Não é apenas um cigarro perdido, por detrás dele amontoam-se derrotas, culpas, medos, desprezo, ódio.....












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