quarta-feira, 27 de abril de 2011

Dos pragmáticos e outras mediocridades

Os medíocres são sempre práticos! Homens de ação! Pensam-se tubarões, agem como rêmoras! Desenvoltos defensores da mais nobre de todas as causas: a causa própria! Seus lemas: “amor só de mãe” e “tempo é dinheiro!” Isso basta em matéria de moral e sabedoria! Supra summum da intelligentsia; ignoram a metafísica, a virtude, as subjetividades ou as superestruturas: especulações só as financeiras! Aquilo que se pensa por Pragmatismo não passa de indolência intelectual, espécie de insulto ao pensamento crítico expresso pelo desprezo a sociedade e os interesses coletivos. Trata-se da apologia ao individualismo mais medíocre e mesquinho, incompatível com os valores democráticos e de cidadania, antes utilitarista, elitista e autoritária! Jamais leram ou lerão Dewey, Emerson ou Thoreau e despudoradamente denominam-se “pragmáticos.” Grosseiros, pedantes, praticam a demagogia e o estelionato intelectual por dever de oficio! 

Pouco diferem dos piratas no seu gosto deliberado pelo saque e extorsão ao patrimônio e a sociedade! São da mesma estirpe da “elite ilustrada” apontada por Faoro e Holanda, superlativos pequenos burgueses, “o poder é a missão para a qual julgam ter nascido!” Apartados da sociedade, presunçosos que se consideram extravagantes pela sua falta de originalidade e mau gosto. Intelectualmente limitados e culturalmente indigentes, praticam o silogismo por ciência e a vulgaridade por arte! Do ponto de vista estético, caracterizam-se pelo apreço a afetação e o grotesco, semelhante aos ideais da sociedade nazista – crença na pretensa superioridade física, intelectual, cultural, estética, espiritual e moral da raça ariana. Essas características verificam-se nos valores e iniciativas da burguesia brasiliana – nos seus valores morais, éticos, estéticos, na sua obsessão asséptica com o corpo, na inclinação a apoiar as iniciativas autoritárias estatais e, sobretudo, no desprezo aberto ou velado pelo outro, expresso de um lado pela cruz e de outro pela espada.

Trata-se daquelas iniciativas que quase sempre oscilam entre o assistencialismo paternalista/clientelista e a cidadania tutelada que, antes conformam, domesticam e desmobilizam. Do providencialismo estatal ao fatalismo messiânico, se espera que o taumaturgo ou o “bom pai” transforme “pobre em rico” ou “pedra em pão.” Em suma, sintomático do desprezo que se percebe na negação do outro, manifesto de modo sutil – porem não menos perverso – pelo não reconhecimento da igualdade enquanto sujeito portador de direitos, conhecimentos, autônomo, livre, dotado de valores, historia, cultura/tradições ou crenças próprias. O lado manifesto é o da política deliberada de encarceramento e extermínio das classes desfavorecidas. Em ambos os casos caracterizam-se pela relação assimétrica, versão burlesca do winners and losers do Tio Sam, em que os vencedores abençoados se compadecem pelos derrotados miseráveis por vocação ou dever de oficio. Sentimento de pretensa superioridade que encontra a sua realização por meio, de um lado, do ódio e de outro da piedade. Ambos são autoritários e tem a mesma origem. O desprezo expresso nas diversas negações – direitos, autonomia, liberdade, cultura - encontra o seu limite na negação a vida. Enfim, os motivos são óbvios - acentuar diferenças, diluir conflitos, escamotear contradições, suavizar e legitimar a dominação. Mero verniz moral, não penetra além da superfície das determinações estruturais - políticas, sociais e econômicas, espécie de bovarismo que colabora apenas para a dieta moral aliviando a consciência.

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