
Pouco diferem dos piratas no seu gosto deliberado pelo saque e extorsão ao patrimônio e a sociedade! São da mesma estirpe da “elite ilustrada” apontada por Faoro e Holanda, superlativos pequenos burgueses, “o poder é a missão para a qual julgam ter nascido!” Apartados da sociedade, presunçosos que se consideram extravagantes pela sua falta de originalidade e mau gosto. Intelectualmente limitados e culturalmente indigentes, praticam o silogismo por ciência e a vulgaridade por arte! Do ponto de vista estético, caracterizam-se pelo apreço a afetação e o grotesco, semelhante aos ideais da sociedade nazista – crença na pretensa superioridade física, intelectual, cultural, estética, espiritual e moral da raça ariana. Essas características verificam-se nos valores e iniciativas da burguesia brasiliana – nos seus valores morais, éticos, estéticos, na sua obsessão asséptica com o corpo, na inclinação a apoiar as iniciativas autoritárias estatais e, sobretudo, no desprezo aberto ou velado pelo outro, expresso de um lado pela cruz e de outro pela espada.
Trata-se daquelas iniciativas que quase sempre oscilam entre o assistencialismo paternalista/clientelista e a cidadania tutelada que, antes conformam, domesticam e desmobilizam. Do providencialismo estatal ao fatalismo messiânico, se espera que o taumaturgo ou o “bom pai” transforme “pobre em rico” ou “pedra em pão.” Em suma, sintomático do desprezo que se percebe na negação do outro, manifesto de modo sutil – porem não menos perverso – pelo não reconhecimento da igualdade enquanto sujeito portador de direitos, conhecimentos, autônomo, livre, dotado de valores, historia, cultura/tradições ou crenças próprias. O lado manifesto é o da política deliberada de encarceramento e extermínio das classes desfavorecidas. Em ambos os casos caracterizam-se pela relação assimétrica, versão burlesca do winners and losers do Tio Sam, em que os vencedores abençoados se compadecem pelos derrotados miseráveis por vocação ou dever de oficio. Sentimento de pretensa superioridade que encontra a sua realização por meio, de um lado, do ódio e de outro da piedade. Ambos são autoritários e tem a mesma origem. O desprezo expresso nas diversas negações – direitos, autonomia, liberdade, cultura - encontra o seu limite na negação a vida. Enfim, os motivos são óbvios - acentuar diferenças, diluir conflitos, escamotear contradições, suavizar e legitimar a dominação. Mero verniz moral, não penetra além da superfície das determinações estruturais - políticas, sociais e econômicas, espécie de bovarismo que colabora apenas para a dieta moral aliviando a consciência.
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