domingo, 3 de abril de 2011

A miséria dos Direitos Humanos

Antes de tudo, devo dizer que sou sociólogo, pós graduado em Direitos Humanos, estudioso e pesquisador - Secretaria de Segurança de Guarulhos, FUNAP - SP. Fui ainda usuário de drogas por mais de uma década e meia e passei a maior parte da minha vida frequentando comunidades e favelas, profissionalmente e socialmente - favela tambem tem vida social - tanto em SP quanto no RJ. Durante esse período, convivi com dezenas de jovens que perderam a vida e a liberdade. Isso tudo, entretanto, não é o objeto destas linhas, antes é a base dos meus argumentos. Não pretendo apoiá-los em teorias, estatísticas e abstrações, antes em fatos e na observação. É demasiado leviano tratar gente de forma exclusivamente abstrata. É aviltante que as pessoas sejam reduzidas a objetos e números, tanto pela academia quanto pela política - incluído o judiciário. Devo dizer que escrevo movido por um sentimento de indignação e nojo. São três os fatos que me trazem aqui. Vamos a eles: A morte de uma menina em uma maca de hospital diante da mãe, das câmeras de TV e da impotência e indiferença de médicos e enfermeiros - mais uma vitima do descaso, desmandos e da impunidade publica. A celeuma em torno das declarações polêmicas e preconceituosas do deputado Jair Bolsonaro. O caso do paladino dos Direitos Humanos e a defesa da jovem burguesia que frequenta as baladas do Itaim e é agredida pelos seguranças - Itaim Bibi e não o Paulista. É possível, conviver Direitos Humanos e violações/negações de direitos básicos? Democracia e violência? Cidadania e injustiça? De acordo com Hobbes o fundamento do Estado assenta-se no direito fundamental a vida. O Estado justifica-se pela defesa da vida, o primeiro e o maior de todos os direitos. Todos os outros se originam dele. Basta porque isso não é um estudo e nem exercício de retórica. Antes um desabafo e protesto! Assim é evidente e inconcebível a convivência entre democracia, cidadania, direitos humanos com índices de violência típicos de uma guerra, violência policial, injustiça e a negação/violação de direitos básicos! Como explicar - e aceitar! - então que crianças sejam diariamente sacrificadas e trucidadas - sendo que elas são a parcela mais frágil e vulnerável da sociedade e, portanto, aquela que merece maior atenção e cuidados - diante da conivência e omissão daqueles que deveriam protege-las e defender os seus direitos? É demasiado cômodo transferir as responsabilidades - conforme a praxe dos incompetentes -, tergiversar, desfocar ou, no limite, intimidar a petulância dos que cobram responsabilidades. Há uma sutileza nas estrategias da burguesia no contexto democrático. Das entidades eclesiásticas e/ou filantrópicas passaram a politica e ao movimento social.   Há uma variedade de profissionais políticos e profissionais liberais que através do movimento social barganham status e prestigio junto ao Estado, governo, sociedade civil e órgãos de classe - de forma sutil ou enrustida. Aqui são os meios que justificam os fins. As causas sociais como meios para se atingir fins privados. Por isso esperam reconhecimento, aplausos, ovações, câmeras, flashes. É típico da burguesia ainda o apreço pelo status e o prestigio publico e social. Na era da massificação, a comunicação e a industria cultural promovem a sociedade do espetáculo - Debord -, estabelecendo a confusão deliberada entre políticos   especialistas, altruístas, artistas e intelectuais - muito embora seus objetivos, competências e finalidades sejam distintas. Porque o verdadeiro militante social o faz por dever de oficio, por convicção, sem esperar nada em troca. É a sua missão e compromisso de classe no sentido estritamente marxista da palavra.
Por outro lado, como conceber, que diante dessas tragédias cotidianas - senão exatamente para desfocar -, as incontáveis  instituições de "defesa" e que representam os Direitos Humanos, estejam mobilizadas e engajadas a perseguir com tamanho empenho e furor o deturpado Boçalnaro? Evidente que a conduta dessa criatura é incompatível com aquela que se espera de uma pessoa publica -  política ou não! -, entretanto, longe de pretender minimizar as suas declarações é a defesa da vida que deve ter primazia em qualquer sociedade que se pretenda civilizada! Que o parlamento afaste esse energúmeno da vida publica e os meios de comunicação façam o mesmo! Antes, porem, é bom que se diga, esse tipo de conduta consiste em um vício que o senso comum - aquele desprezado pelo meio acadêmico - conhece como "jogar para a platéia!" Diante de uma figura polêmica como no caso do dito Boçalnaro, quando se faz muito pouco ou quase nada, "jogar para platéia" torna-se ainda mais relevante, na medida em que se pode pegar carona nos holofotes que então estão voltados para ele! Assim, passa-se a falsa impressão para a sociedade de severidade e rigor vigilante e atuante! Enquanto isso, o massacre e a impunidade seguem impassíveis e céleres nas ruas, lares, hospitais! Aos mortos à terra, as famílias a tristeza e a saudade! Que mais poderia se dizer sobre essas instituições políticas e sociais e a realidade das ruas? Penso apenas que a realidade é demasiada contundente e a política dissimulada. O chão é insuportável para quem se acostumou a ver do alto - de helicópteros, talvez? Os paladinos dos Direitos Humanos me cansam. A realidade e as suas praticas contradizem as suas boas intenções e belos discursos! Para quem pratica o silogismo por ciência e a demagogia por dever de oficio não há problema algum em "representar" as mais nobres causas e defender os interesses mais frívolos e mesquinhos, como os das minorias que frequentam as boates de luxo do Itaim Bibi, vitimas da truculência dos seus seguranças! Enfim, trata-se de um belíssimo exemplo de mobilização em defesa das minorias - elites! A pratica é o critério da verdade e as suas praticas dizem mais a seu respeito - seus valores - do que qualquer discurso demagógico politicamente correto! Os lugares que voce frequenta também dizem muito a seu respeito, seus interesses e gostos de classe!

Para finalizar, pior do que o Boçalnaro são aqueles que se locupletam e se fartam nos gabinetes, traficando influencias, barganhando status e prestigio, concorrendo para a manutençao dessa ordem autoritária e injusta! Pior são a hipocrisia, o cinismo, a omissão,
a demagogia, a soberba e o desprezo dessa elite pseudo-intelectual e pedante! Gramsci já chamava a atenção para a indiferença e Luther King para a omissão - o "peso morto da história" e "as maiorias silenciosas!" Peço que os ouvidos mais sensíveis não se ofendam com minhas críticas, antes com esse estado de coisas e, que os mortos e os deuses me perdoem a ousadia. Sei tambem o meu papel e responsabilidades enquanto pai, cidadão e sociólogo e, que o desabafo e o protesto por detrás de um computador são insuficientes, no entanto, o que foi dito acima sobre mim e essa situação, por ora, bastam para aqueles que sem sair da sua zona de conforto, preferem formar juízo a meu respeito. Eu ando nas ruas e sei de que lado estou!

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