quarta-feira, 15 de junho de 2011

Winners e losers em Pindorama.


"O homem medíocre é sinônimo de homem domesticado, alinhado com exatidão ás filas do convencionalismo (...) são a escora mais firme de todos os preconceitos políticos, religiosos, morais e sociais."  José Ingenieros

As últimas décadas trouxeram mudanças significativas no mundo do trabalho e nas suas relações. A globalização e o neoliberalismo – que se caracterizam pela hegemonia ianque – exigiram novas práticas, valores, relações, ideias e teorias para a esfera produtiva – em todos os setores. A face mais visível e cruel dessa nova realidade consiste no incremento da tecnologia na produção, flexibilização das relações de trabalho, privatizações e fusões; tudo para evidente beneficio do capital em detrimento do trabalho e trabalhadores. Embora seja mais sutil, o outro lado da moeda não é menos perverso. A mão continua invisível e falando inglês, porem agora com sotaque yankee.

O modelo do Tio Sam se caracteriza pelo pragmatismo patológico, pela paranoia estatística e uma inclinação ao tecnicismo infantil. Essa tendência pode ser observada na iniciativa privada, setor publico – com reservas! – e, mais recentemente, com algumas resistências pontuais no terceiro setor. Ela se observa ainda na subordinação incondicional da educação ao mercado – ensino médio, técnico, profissionalizante e superior. Apenas a abandonada educação publica não se subordinou ao mercado, nem a sociedade, a cidadania, a democracia, a globalização, enfim, ela sobrevive a margem disso tudo! Esta espécie de fixação atende pelo nome de “profissionalização” – exigência imposta pela globalização neoliberal.

O Brasil caracteriza-se por uma tendência a subserviência que se expressa pela adesão voluntaria e irrestrita a tudo o que vem dos Estados Unidos – em outros tempos foi a Europa. O neoliberalismo, espécie de capitalismo selvagem, torna o mercado o senhor absoluto da sociedade, subordinando tudo, sobretudo a produção, a sua vontade inexorável. Assim, se reduz tudo a mera mercadoria, a relações de consumo, tornando-se tudo rigorosamente descartável. Uma espécie de Midas depravado, que corrompe tudo aquilo que toca! Sorry, nesse sistema “moderno” a educação não tem tempo para ensinar tolices e inutilidades como mitologia, folclore, filosofia, ética, moral, historia, sociologia, gênero, política, etc. Yes man, time is money! Eis o mantra da intelligentsia pós ou neo yuppie tapuia! Deste modo, tudo deve ser fast, over, full, high, up, clean, power, plus. Raso, vazio, superficial, fútil, frívolo, tolo. Como são felizes e realizados os burgueses e os aspirantes a classe media! Tudo é tanto que não cabe em ideias, não se reduz a palavras, escapa pelos sorrisos compulsivos expostos em profusão como provas incontestáveis nas redes sociais! Deve-se provar e renovar a afetação na "roda da fortuna." 

Para alcançar este fim, multiplicam-se as especializações, cursos técnicos rápidos e profissionalizantes, MBA’s, bem como os manuais de auto ajuda corporativos nos quais os conceitos e teorias devem caber rigorosamente em 126 toques! Com capítulos feitos sob medida para ler em latrinas ou entre uma reunião e outra, produzidos e promovidos como creme dental, um dia serão vendidos em hipermercados ou distribuídos como brindes para assinantes de operadoras de telefonia móvel. “A cabeça de Bill Gates.” “A mente de Steve Jobs”. “O pensamento de Roberto Justus: inside head boss.” Não, não é o que você esta pensando!

No pântano do “mundo corporativo”, o discurso caracteriza-se pela ausência de critica, pela profusão de obviedades e insignificâncias, idiossincrasias, preconceitos mal disfarçados, tautologias, formulas repetidas ad nauseam, indigência intelectual, cultural, frivolidades, empáfia e pouca ou nenhuma ética. O desprezo pela reflexão e critica reduz tudo a formulas, sentenças, demagogia, bazófias e números. O triunfo da ignorância oscila entre o amadorismo bovarista e cínico de um lado e a competição predatória e inescrupulosa de outro. Assim, se apoia no sofisma que opõe a teoria a pratica, sustentando que quem pensa não executa, apartando deliberadamente a ideia da ação - vazia, superficial, incoerente, extravagante. As “tendências” do líder e winner bem sucedido desses tempos reduzem-se basicamente a “boa aparência” e ao domínio do repertório do trash management. No brain and no sense! Trata-se do decrépito "admirável mundo novo" dos managers, bosses, fellows, coachings, etc. Na contracapa do almanaque de RH do homo-faber - "homem" marca e mercadoria -, postura não passa de "boa aparência", extravagância e altivez.  Embora os adjetivos sejam eloquentes e prolíficos em superlativos, trata-se do bom e velho mundinho pequeno burguês.

Nesse "admirável mundo novo" corporativo, os descartados pela iniciativa privada em decorrência da globalização invadem os movimentos sociais, apresentando-se como os novos adeptos e redentores das suas causas! As suas posturas, hábitos, trajetórias e discursos, no entanto, demonstram o seu grau de comprometimento com a causa – própria! Os mais ingênuos resignam-se e reproduzem esse modelo essencialmente incompatível, predatório e excludente ou pretendem acreditar que existem males que vem para o bem, como se o desemprego de hoje torna-se o burguês individualista de ontem no altruísta de hoje. Seria cômico, se não fosse verdade!

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