sábado, 8 de dezembro de 2012

Beleza





Tarde Vos amei,
ó Beleza tão antiga e tão nova,
tarde Vos amei!
Eis que habitáveis dentro de mim,
e eu, lá fora, a procurar-Vos!
Santo Agostinho





Ela era jovem, bonita, extremamente bela e proporcionalmente vaidosa. A beleza não deveria ser um excesso. Ofusca, deslumbra, seduz. É pesada demais, arrogante demais. Demasiadamente presunçosa. Egoísta. Um despautério, uma estupidez.  A beleza é algo raro, tanto que poucos a percebem e muitos a confundem. Ela era menos do que supõe a sua soberba. Difícil aceitar o seu caráter subjetivo, quando o hedonismo e a superficialidade se impõem.

O reflexo no espelho impedia-a de enxergar aquilo que havia de essencialmente belo em si. Porque a beleza é simples, o mais são alegorias. É preciso maturidade, bom senso, generosidade para perceber que a ela é simplesmente um mistério e é esse o seu encanto. Brigite Bardot, Audrey Hepburn, Ava Gardner, Marlene Dietrich, Lana Turner, Claudia Cardinalle, Sophia Loren, Greta Garbo, Grace Kelly, Rita Hayworth, Bettie Page, Marilyn Monroe foram infinitamente belas. Todas se foram com a beleza restando antes aquilo que é permanente: a mulher. Quem foram essas mulheres? Um insulto a sua débil beleza? Um aviso a sua majestosa insignificância? Um elogio a sua soberba ignorância? 

vaidade é uma espécie de ignorância, miopia da alma, depravação da natureza.  Para Santo Agostinho o amor era a beleza da alma e recomendava que se interrogasse antes a beleza da natureza – da terra, do mar, do ar. Considerava a vaidade incompatível com a beleza porque é um simulacro e não a verdade - Platão tambem. Triunfo da aparência sobre a essência. Enquanto uma parece à outra é. Espécie de negação de si e do outro que paradoxalmente depende do olhar e aprovação dele. Paradoxalmente caracteriza-se pela natureza superlativa que escamoteia um complexo de inferioridade enrustido. 

A excessiva vaidade tornava-a afetada, dissimulada, insegura, um esboço, uma paródia de mulher. Não há beleza na mentira, futilidade e superficialidade. Já foi dito que o essencial não se vê. Já foi dito que ver muito lucidamente prejudica o sentir demasiado. Que ela é coisa terrível porque indefinível, e não se pode defini-la porque Deus só criou enigmas. Que é uma ilusão, maldição e morte. Um sopro. Não, ela é uma contradição e as contradições sempre são aberrações. A sua tolice e fraqueza era tudo o que possuía e a miséria em si, nua e crua, é tambem uma força aprisionada, uma pedra bruta. Blake, Pessoa, Dostoievski. Todos os poetas e toso os cientistas e escritores juntos, os santos e os místicos, até mesmo os deuses não podem nos redimir, senão nos condenar a beleza e as suas misérias.

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