quinta-feira, 9 de maio de 2013

Crítica as "estratégias" da esquerda pequeno burguesa.


Minha experiência em trabalhos comunitários iniciaram-se há 13 anos em Guarulhos/SP – Secretárias de Planejamento e de Segurança Publica.  Nesse período, pela Empresa Jr. da faculdade pude ainda realizar algumas pesquisas em diversas comunidades na capital paulista. Acrescento que fui criado em uma - favela do Piqueri – no bairro de Pirituba/SP.
Em 2004 fui Coordenador do Programa SP Inclui na subprefeitura de São Matheus – uma das comunidades mais carentes de SP.  Nessas experiências travei contato com agentes públicos diversos e, sobretudo, com lideranças sociais e comunitárias e elas foram fundamentais para as que viriam nas comunidades cariocas – Maré, Providencia e Nova Iguaçu entre 2005 e 06.
As políticas habitacionais redefiniram as relações entre as comunidades e o poder publico. Dos mutirões populares organizados no interior das comunidades e com apoio das CEBs, a brutal repressão policial estatal dos anos 70 e 80 e que ainda persiste, passamos a  expansão dos movimentos sociais organizados e as políticas publicas sociais. Do ponto de vista objetivo, trata-se de atender as exigências legais decorrentes da redemocratização e as pressões da sociedade civil organizada. Historicamente as questões sociais, entre elas as habitacionais, sempre foram tratadas como “caso de policia” pelo Estado brasileiro.
Com a democracia e as exigências da cidadania, expandiram-se as instituições, agentes, normas, procedimentos e interlocutores entre as comunidades e o poder publico, bem como a maior complexidade e burocratização dessas relações. A conquista formal de direitos, entre eles o de participar do planejamento, implantação ou implementação de políticas publicas, não corresponde a sua efetivação. Na pratica são diversas – e perversas - as estratégias que dissimulam e estabelecem restrições, condicionamentos e impedimentos a participação popular.  Da cooptação seletiva dos “representantes populares” aos excessos burocráticos e formalismos desnecessários, passando pela desqualificação dos interlocutores e o controle autoritário da pauta e agenda de “debates”, entre outras mais autoritárias até o limite da força e da violência.  Conheci isso tudo quando trabalhei para a CDHU nos Programas de Recuperação Socioambiental da Serra do Mar e o de Urbanização Integrada e Recuperação Ambiental Vicente de Carvalho II, respectivamente nos municípios de Cubatão e Bertioga – SP. As minhas experiências anteriores – profissionais e pessoais -, formação acadêmica e política permitem-me dialogar de forma objetiva e clara com as diversas comunidades, sobretudo, interagir e identificar-me com elas, valorizando e incentivando as suas lutas e características. Por fim, destaco ainda a leitura privilegiada no interior do Estado das orientações, estruturas e estratégias políticas e governamentais dissimuladas nos discursos e políticas ou serviços públicos, buscando as contradições e interesses dissimulados por detrás deles.  
Hoje (08/05/13) mais um incêndio consumiu a comunidade México 70 em São Vicente. Um rápido levantamento pela internet revela que eles acontecem todos os anos. O nome da comunidade, por sua vez, revela a sua longevidade. A atuação da CDHU nessa comunidade é anterior ao Programa Serra do Mar. Remonta a época da gestão “socialista” do Capitão-mór da Capitania de São Vicente Marcio França. No âmbito do Estado, esses “socialistas” compõem a base de apoio da “social democracia” e isso basta para efeitos de caráter ideológico.  Por outro lado, isso não foi suficiente para que se solucionasse a questão habitacional nessa comunidade, tampouco em quaisquer outras do município. Desnecessário dizer que a questão habitacional está interligada aquelas de urbanização, saneamento básico - água e esgoto -, regularização fundiária, fornecimento de energia e outros serviços essenciais a vida em comunidades urbanas – escolas, postos de saúde, transporte, coleta de lixo, etc. Portanto, fica claro que a falta de atenção a questão habitacional impede ou dificulta as ações nas outras esferas, acarretando um prejuízo global a qualidade de vida dessas famílias.
A despeito da constatação e das minhas experiências anteriores em trabalhos comunitários relacionados às questões habitacionais e a disposição e interesse, o PSoL de Santos e São Vicente – em março contatei o partido vicentino e propus visita a ocupação do PAR, aguardo resposta até hoje - dispensam a colaboração para a construção coletiva do debate e propostas relativas as comunidades e as demandas relacionadas a questão habitacional. Desde janeiro uma proposta formal para a construção de estratégias políticas para mobilização e organização comunitárias encontra-se no fundo da gaveta dos burocratas da direção do PSoL Santos. Essa proposta, elaborada a partir de experiências de trabalho e assentada nos pressupostos do materialismo dialético e nas metodologias construtivistas e participativas, buscava aproximar e estreitar os laços com as bases populares, estabelecendo um dialogo permanente com as comunidades santistas no sentido de construir uma agenda publica e social coletiva e popular. Pretendia ainda estimular e fortalecer os movimentos populares e comunitários, identificar e formar lideranças sociais, promover a articulação e a interação entre elas, identificando e produzindo estudos e pesquisas no âmbito das comunidades. O PSoL Santos não precisa de projetos desse tipo. Está longe de ser um partido popular – pelo menos em Santos. Ignora o debate e a construção de estratégias coletivas tanto quanto a realidade objetiva das comunidades santistas. Não produz informações, debates, críticas. Autoritário, pedante e medíocre. 
Com efeito, a sua estratégia se resume a visibilidade, as aparências, portanto, basta a superfície. As ideias foram substituídas por clichês e chavões típicos da esquerda vulgar e indolente. As ações se orientam por critérios de visibilidade que possam promover o partido nas mídias e redes sociais. Assim seguem a reboque dos acontecimentos no município e na região. A sua agenda e pauta dependem, portanto, dos acontecimentos e do que se julgar que poderá dar mais visibilidade. Estratégia que, de tão baixa e leviana, insulta a política e, sobretudo, à esquerda e a classe trabalhadora. Hoje é o cartão do transporte em Santos – medida tomada pelo prefeito santista -, antes foi à epidemia de dengue e a greve dos servidores – tudo, evidente, desprovido de planejamento, pautado pelas circunstancias.  Tudo rigorosamente a reboque e a margem da agenda do prefeito e dos acontecimentos. Disputando as sobras e as luzes da ribalta.
De acordo com as exigências da lógica da visibilidade, em março aconteceu a ocupação por cerca de 500 famílias de alguns prédios inacabados e abandonados do PAR (Programa de Arrendamento Residencial do Ministério das Cidades/CEF) em São Vicente. Em um primeiro momento, é legitimo e razoável que um partido de esquerda apóie e participe desse tipo de ação, no entanto, a observação dos fatos expõe contradições que revelam os verdadeiros objetivos por trás da suposta iniciativa solidária. Tudo em busca de visibilidade e mídia repito, porque o partido não tem planejamento, subsídios, propostas e estratégias de ação que possam ser executadas e aferidas ao longo do ano, necessitando dos acontecimentos e da agenda do governo municipal.
A primeira objeção consiste no fato de que a direção do partido santista ignorou a municipal de São Vicente e a revelia desta extrapolou os limites de atuação e respeito pelos companheiros vicentinos – um deles apenas soube pela internet e em conversa comigo pela rede. A ação oportunista seguem-se as mentiras. De acordo com a direção santista, os companheiros de São Vicente não foram avisados “porque eles souberam do protesto organizado pelas famílias no dia.” É no mínimo curioso que sabendo disso no dia, dirigindo-se para o local as pressas, sem sequer tempo de avisar os companheiros vicentinos, arranjaram para providenciar faixas e cartazes para as fotos que iriam ilustrar as paginas dos sítios e redes sociais! Resultado disso, apenas isso mesmo. No mesmo dia as famílias foram removidas pela PM e até recentemente encontravam-se amontoadas em escolas e ginásios espalhados pela cidade. De acordo com os sítios do partido e as redes sociais, foi agendada uma reunião com o secretario de habitação municipal com o apoio do deputado federal Ivan Valente que, do ponto de vista objetivo, para a comunidade, não resultou em nada – senão naquilo que consta do manual da assistência social (cadastros e auxílios provisórios). Não se tem noticias de que no período subsequente - nem mesmo na Páscoa - esses diligentes dirigentes tenham visitado as famílias ou buscado meios de minimizar as conseqüências dessa ação que os promoveu.  Por fim, fica claro e evidente ainda que o partido, conforme a praxe seguiu a reboque dessa ação da comunidade porque não tem estratégia e é incapaz de organizá-la, sequer mobilizá-la.
“Corações e mentes”, de acordo com intelligentsia do establishment santista, conquistam-se por meio de ações que tragam visibilidade e de clichês repetidos ad nauseam. Subestimam e insultam de forma deliberada e leviana a inteligência e o bom senso alheios. Espera-se conquistar a confiança das comunidades sem aproximar-se delas e, muito menos, dialogar e construir propostas e ações com elas de modo que não só elaborem-nas como as executem, protagonizando-as e se apropriando delas.  De um lado, a ação sem planejamento e a reboque, de outro o desprezo pelo debate e a critica caracterizados pelas estratégias ao acaso e alheias as bases da militância e populares – “denuncismo” vazio e infantil e opção pelo Judiciário, renunciando a ação política e popular. Enfim, quem se dispor a verificar essas informações podem aferi-las na internet – Facebook e sitio eletrônico – e todas elas também estão registradas – em emails trocados com os respectivos dirigentes - e não tenho problemas em disponibilizá-las a quem se interessar. No outro mundo possível da esquerda pequeno burguesa, não há lugar para as comunidades, antes os gabinetes e os tribunais, não há lugar para as periferias, antes o centro e as classes medias, não há lugar para a participação popular, antes as elites políticas a conduzir a massa alienada e passiva, por fim, não há lugar para a construção do poder popular e a subversão da ordem vigente, antes a sua manutenção, expansão e inclusão. Sem voz, sem dialogo, sem debate, sem critica e sem ruptura, pelo contrário, abusa dos recursos elitistas utilizados pela direita mais reacionária a despeito do povo: o marketing e o Judiciário. 



ps.: No dia do incêndio e nem no seguinte havia uma única linha sequer sobre ele e/ou nota de pesar, apoio ou solidariedade a comunidade do México 70 nos sites e Facebook do partido na baixada santista - tampouco nas paginas particulares das suas "lideranças esclarecidas." De fato, um "partido necessário" e, mais ainda, socialista, popular e solidário! Os fatos estão aí e o resto é demagogia e empulhação! 

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