terça-feira, 7 de maio de 2013

Os senhores do mundo.


Os períodos de transição são críticos. A turbulência turva a visão. Incompreensível a realidade para quem a vive - basta sobreviver. São diversos os artífices do caos e da miséria. O capital os exigem em extensão e escala. Há os que atuam no âmbito das "superestruturas" e aqueles que as reproduzem. A "fênix" sempre renasce das cinzas, porém, o moribundo renova apenas a aparência, por isso é imprescindível o exército de manipuladores – de formulas, teorias, dogmas, ideais, valores, técnicas, tecnologias, estratégias. Estamos em um estágio de expansão e concentração do capital em escala global. Os "alquimistas" são capazes de transformar “pedra em pão” e “pobres em ricos.” Ilusionistas, magos, necromaquiadores. A "roda da fortuna" pressupõem a prosperidade material. Para os paladinos do "admirável mundo novo" a realidade é antes transitória que peremptória. Tudo é volátil, fluído – uma versão infame e burlesca da filosofia de Tales[1]?  A água transformada em vinho embriaga.  
As molas são outras. O rendimento é maior, aumenta-se o consumo. O combustível é o mesmo e recicla-se. O consumo é o óleo da máquina e o óbolo dos artífices. Mamon[2] não conhece a generosidade, ele é o corvo do mito de Prometeu[3]. O custo do fogo, da maçã, dos segredos da caixa é alto. A astúcia do diabo consiste em fazer-nos crer que ele não existe.
Penso que Schumpeter[4] não iria tão longe; nem Hayek[5]Friedman[6], Huntington[7], Fukuyama[8], Giddens[9] são os profetas dos novos tempos. Novos? De um lado os triunfantes paladinos das democracias liberais, os porta-vozes do “desenvolvimento” (ou desenvolvimentismo) – Estado de Bem-Estar Social, Capitalismo sustentável, lassez faire. De outro os fatalistas e/ou resignados aristocratas, oligarcas, plutocratas, cleptocratas. Eles não mais disputam, dissimulam, compartilham. Uns por conveniência, outros por necessidade ou oportunismo. 
O príncipe não é mais um condottiere ou guerreiro. É um negociante, um mercador, um diplomata. Os Bórgias[10], Tudors[11], Sforzas[12] cederam aos Médicis[13] e Rothschilds[14]. Bruges, Antuerpia, Amsterdan, Rotterdan, Flandres, Strasburgo. Urbi et Orbi. Roma não é mais o centro do mundo. Não mais pertence aos imperadores, ditadores, estadistas. Nem aos "falcões" de Washington, a nobreza alegórica europeia, os perdulários califas do petróleo. É outra a sua virtu. Nem Ares[15], nem Apolo[16]. É a época de Hefesto[17] (o astuto), de cuja forja saiu Pandora[18] e de onde Prometeu[19]roubou o fogo que entregou aos homens.  
A "mão invisível" também não tem face ou nome. Não se deixa definir, indelével, infatigável, infalível. Omnisciente, omnipotente, omnipresente. Conforme o capital, a face publica é global: UN, NATO, EU, G8, WEF, WB, IMF. A questão não está nos extremos e nem nos excessos.  Não são as aparências, antes as sutilezas – não se trata de retórica. Menos é mais - maior concentração de capital e poder. Interesses privados dispensam ou dissimulam a opinião publica – fabricam-na. Davos[20] é o verniz de Bilderberg[21].  



[1] Filosofo pré-socrático grego Tales de Mileto (640 – 550 ac).
[2] Na Bíblia Mamon representa a ganância e o “Deus Dinheiro.”
[3] Mito grego de Prometeu.
[4] Joseph Schumpter, economista austríaco (1883-1950).
[5] Friedrich Hayek, economista austríaco (1899-1992).
[6] Milton Friedman, economista americano (1921-2006).
[7] Samuel Huntington, economista americano (1927-2008).

[8] Francis Fukuyama, filosofo e economista americano (1952).

[9] Anthony Giddens, sociólogo inglês (1938).
[10] Família renascentista do patriarca Rodrigo Bórgia (Papa Alexandre VI).
[11] Dinastia real inglesa, do rei Henrique VIII, século XVI.
[12] Família renascentista que representava a nobreza em Milão.
[13] Os Médicis eram os grandes banqueiros renascentistas em Florença.  
[14] Família de banqueiros alemães de fins do século XVI.
[15] Deus grego da guerra, da carnificina.
[16] Deus grego da razão, verdade, equilíbrio e da beleza ou perfeição.
[17] Deus grego da metalurgia, da tecnologia e dos ofícios manuais.
[18] Mito grego da Caixa de Pandora – a primeira mulher da humanidade.

[20] Cidade suíça em que se realiza o Fórum Econômico Mundial.
[21] Bilderberg é um hotel holandês que empresta o nome a conferencia anual de empresários, banqueiros, autoridades publicas e políticas e intelectuais que passou a ser conhecida como o Circulo de Bilderberg. Trata-se de um encontro anual para discutir economia e política em escala global na perspectiva dos interesses do capital. Conforme seja uma conferencia de caráter privado e restrita a um numero limitado de participantes convidados ou pertencentes à organização e, de acordo com o poder e prestigio dos seus participantes, não surpreende que seja considerada o Conselho de Segurança de Davos.   

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