Os
períodos de transição são críticos. A turbulência turva a visão. Incompreensível
a realidade para quem a vive - basta sobreviver. São diversos os artífices do
caos e da miséria. O capital os exigem em extensão e escala. Há os que atuam no
âmbito das "superestruturas" e aqueles que as reproduzem. A "fênix" sempre renasce
das cinzas, porém, o moribundo renova apenas a aparência, por isso é imprescindível o exército
de manipuladores – de formulas, teorias, dogmas, ideais, valores, técnicas,
tecnologias, estratégias. Estamos em um estágio de expansão e concentração
do capital em escala global. Os "alquimistas" são capazes de transformar “pedra em pão”
e “pobres em ricos.” Ilusionistas, magos, necromaquiadores. A "roda da fortuna" pressupõem
a prosperidade material. Para os paladinos do "admirável mundo novo" a realidade
é antes transitória que peremptória. Tudo é volátil, fluído – uma versão infame e
burlesca da filosofia de Tales[1]? A água transformada em vinho embriaga.
As
molas são outras. O rendimento é maior, aumenta-se o consumo. O combustível é o
mesmo e recicla-se. O consumo é o óleo da máquina e o óbolo dos artífices. Mamon[2]
não conhece a generosidade, ele é o corvo do mito de Prometeu[3].
O custo do fogo, da maçã, dos segredos da caixa é alto. A astúcia do diabo consiste em
fazer-nos crer que ele não existe.
Penso
que Schumpeter[4]
não iria tão longe; nem Hayek[5]. Friedman[6],
Huntington[7],
Fukuyama[8],
Giddens[9]
são os profetas dos novos tempos. Novos? De um lado os triunfantes paladinos
das democracias liberais, os porta-vozes do “desenvolvimento” (ou
desenvolvimentismo) – Estado de Bem-Estar Social, Capitalismo sustentável, lassez faire. De outro os fatalistas e/ou resignados
aristocratas, oligarcas, plutocratas, cleptocratas. Eles não mais disputam, dissimulam,
compartilham. Uns por conveniência, outros por necessidade ou oportunismo.
O
príncipe não é mais um condottiere ou guerreiro. É um negociante, um mercador,
um diplomata. Os Bórgias[10],
Tudors[11],
Sforzas[12]
cederam aos Médicis[13]
e Rothschilds[14].
Bruges, Antuerpia, Amsterdan, Rotterdan, Flandres, Strasburgo. Urbi et Orbi. Roma não é mais o centro
do mundo. Não mais pertence aos imperadores, ditadores, estadistas. Nem aos "falcões" de Washington, a nobreza alegórica europeia, os perdulários califas do petróleo.
É outra a sua virtu. Nem Ares[15],
nem Apolo[16].
É a época de Hefesto[17]
(o astuto), de cuja forja saiu Pandora[18]
e de onde Prometeu[19]roubou o fogo que entregou aos homens.
A "mão invisível" também não tem face ou nome. Não se deixa definir, indelével, infatigável,
infalível. Omnisciente, omnipotente,
omnipresente. Conforme o capital, a face publica é global: UN, NATO, EU,
G8, WEF, WB, IMF. A questão não está nos extremos e nem nos excessos. Não são as aparências, antes as sutilezas –
não se trata de retórica. Menos é mais - maior concentração de capital e poder.
Interesses privados dispensam ou dissimulam a opinião publica – fabricam-na.
Davos[20]
é o verniz de Bilderberg[21].
[1]
Filosofo pré-socrático grego Tales de Mileto (640 – 550 ac).
[2]
Na Bíblia Mamon representa a ganância e o “Deus Dinheiro.”
[3]
Mito grego de Prometeu.
[4]
Joseph Schumpter, economista austríaco (1883-1950).
[5]
Friedrich Hayek, economista austríaco (1899-1992).
[6]
Milton Friedman, economista americano (1921-2006).
[7]
Samuel Huntington, economista americano (1927-2008).
[8]
Francis Fukuyama, filosofo e economista americano (1952).
[9]
Anthony Giddens, sociólogo inglês (1938).
[10]
Família renascentista do patriarca Rodrigo Bórgia (Papa Alexandre VI).
[11]
Dinastia real inglesa, do rei Henrique VIII, século XVI.
[12]
Família renascentista que representava a nobreza em Milão.
[13]
Os Médicis eram os grandes banqueiros renascentistas em Florença.
[14]
Família de banqueiros alemães de fins do século XVI.
[15]
Deus grego da guerra, da carnificina.
[16]
Deus grego da razão, verdade, equilíbrio e da beleza ou perfeição.
[17]
Deus grego da metalurgia, da tecnologia e dos ofícios manuais.
[18]
Mito grego da Caixa de Pandora – a primeira mulher da humanidade.
[20]
Cidade suíça em que se realiza o Fórum Econômico Mundial.
[21]
Bilderberg é um hotel holandês que empresta o nome a conferencia anual de
empresários, banqueiros, autoridades publicas e políticas e intelectuais que passou
a ser conhecida como o Circulo de Bilderberg. Trata-se de um encontro anual
para discutir economia e política em escala global na perspectiva dos interesses
do capital. Conforme seja uma conferencia de caráter privado e restrita a um
numero limitado de participantes convidados ou pertencentes à organização e, de
acordo com o poder e prestigio dos seus participantes, não surpreende que seja
considerada o Conselho de Segurança de Davos.
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