"Mario" tinha um gosto sofisticado. Demasiadamente sofisticado. Apreciava tudo aquilo que a pequena burguesia ilustrada e as elites consideram "popular" para os seus padrões e gosto refinado - Tom, João, Vinicius, Nara, Baden, entre outros.... Os "modernistas", a Bossa Nova e Tropicália foram movimentos culturais predominantemente burgueses, ainda que progressistas ou com aspirações "revolucionárias" de caráter socialista ou libertário e popular. Cartola, Carlos Cachaça, Donga, Nelson Sargento, Almirante, Jamelão, Candeia, pra ficar apenas no samba, foram marginalizados até serem incorporados e posteriormente apropriados de forma arbitrária pela burguesia. Hoje são objetos de culto da pequena burguesia pedante, ilustrada e extravagante, aclamados por críticos de arte excêntricos e artistas consagrados, decadentes ou oportunistas em busca de prestigio ou aceitação critica, restritos a barzinhos chiques ou descolados, banidos dos meios de comunicação entregues a sanha do mercado e interesses comerciais. Noel, o "filosofo do samba", bacharel da Vila Isabel e Vila Lobos foram alguns dos responsáveis pela "aceitação" do samba pelas elites e classe media. Ambos não eram negros e nem do morro. O genial Pixinguinha foi aceito pela "sociedade" com o apoio do maestro Vila Lobos e de Arnaldo Guinle. Consta que foi Guinle, milionário, empresário e mecenas quem lhe indicou e ofertou o Sax - instrumento típico do Jazz americano assimilado pela burguesia nacional na década de 40. Embora, a cultura brasileira seja vasta e rica, conforme o sincretismo que a caracteriza, assim como a arte, a historia e a política são objetos reservados a burguesia.
"Mario" foi criado no Itaim Bibi, super-protegido pela mãe numa família tradicional paulistana - o avô era Liberal e ex-combatente de 32. Até terminar o curso superior não havia trabalhado, conforme o roteiro da classe média e elites. Ontem "Mario" identificava-se com o "anarquismo", embora mantivesse os padrões de consumo e estilo de vida típicos da burguesia, agora considera-se um socialista moderado - eleitor do PSoL. Hoje "Mario" é um homem maduro, responsável, sóbrio, sofisticado. Por isso recusa o seu passado "inconsequente" - "roqueiro", vagabundo, boêmio, usuário de drogas, bon vivant e Don Juan inseguro. Conheceu o som Punk e o Rap comigo - levou embora meu disco dos Toy Dolls. Em nossa ultima conversa disse-me isso, admitindo sequer a vontade de lembrar e falar sobre isso - mudou hábitos, amizades, ideias e alguns gostos. Também mudei-os, sem desprezo pelo que fui e o que vivi, antes gratidão - ainda que na magoa e na dor.
"Lucia" considerava-se libertária e socialista - muitos acreditam-na até hoje! Apoiava o Centro Acadêmico e ajudou a criar o breve Jornal Taba Sociológica em oposição ao Circuito Fechado. "Lucia" era "diplomática" - ou oportunista? -, apoiava o Centro Acadêmico abertamente e a Empresa Jr. de forma reservada. Criticava a mantenedora da Faculdade e trabalhava pra ela, silenciava sobre o C. A. na Empresa Jr. e criticava esta no C.A. Frequentava todos os círculos e meios e granjeava simpatia e prestigio com todos. Quem a conhecesse na faculdade e no entorno, inclusive no bar a teria como jovem engajada e militante de esquerda e das causas sociais. Hoje "Lucia" trabalha pro governo do Estado em SP e é comissionada do governo tucano em Santos, embora omita esse fato da sua rede social - não convém pra uma "libertária" e/ou "socialista." Ela também "representa" e "luta" pelos sociólogos na Federação Nacional dos Sociólogos, espaço criado por indivíduos em busca de mais espaço e capital político em oposição ao Sindicato dos Sociólogos do Estado de São Paulo. Grosso modo, grupos sem expressão e representatividade que se utilizam de causas corporativas, a despeito da insignificante mobilização e adesão para alçar indivíduos junto as esferas de poder inacessíveis aos cidadãos comuns - Estado, Centrais Sindicais, Academia. Embora, por diversos motivos - técnicos, éticos, ideológicos -, esteja distante de alcançar os seus objetivos institucionais, basta para satisfazer o ego e a vaidade das rêmoras que se regozijam com micropoderes inúteis.
"Ronaldo" foi um grande "companheiro". Antes de terminar o curso cortou o contato com todos. Também era "anarquista", boêmio, usuário de drogas - nascido em SJC e filho de um engenheiro da Embraer. Há quase uma década trabalha na Ação Educativa, movimento social burguês ligado ao PT, mas, que não recusa parceria ($$$) com o PSDB - Fundação Casa. "João Pedro" era um prototipo de "Stalinista". Esquerdista radical e intransigente. Atacava qualquer iniciativa dos alunos que não fosse conduzida pelo Centro Acadêmico, ainda que esse não representasse todos os alunos, sequer a maioria deles. Hoje é sócio de um escritório de advocacia, prestador de serviços pro governo do PSDB e também omite a sua formação em sociologia - na verdade nem sei se concluiu o curso -, exercendo o nobre oficio das leis, compatível com o seu caráter reacionário e as suas origens pequeno-burguesas, conforme consta das redes sociais. Convenhamos, não pegaria bem pra um "douto" a serviço do tucanato exibir um "currículo" desses.
"Davi" é o jovem "anarquista" típico da atualidade - filho da Aclimação (SP), nunca trabalhou na vida, cursava sociologia na ESP pela manhã e geografia na USP a tarde. Fez mestrado na segunda orientado pelo ex-professor da ESP, hoje leciona na casa. Musico, boêmio e maconheiro por gosto, estudava por tédio e vaidade. Hoje é "intelectual" especialista em moradores de rua - embora sequer tenha experimentado a pobreza ou qualquer tipo de privação. Consta que "Ivan", filho da classe média paulistana, boêmio, "anarquista", maconheiro nato e musico adquiriu um barco e tem vagado pelo mundo em busca de alguma coisa ou apenas pra passar o tempo sem se ocupar com nada além do seu tédio e vazio.
"Vitor" deixou Osasco e o CA seduzido pelo poder do PT - PC do B após alguma militância nessa cidade. Com esse background investiu na carreira acadêmica no exterior. Hoje "Vitor" é um intransigente defensor do "socialismo" moderado e conciliatório do PT, doutorando na Alemanha, consultor da ONU, subsidiária da OTAN/OEA/FMI/UE com o objetivo de legitimar as ações do capitalismo imperialista. O socialismo é incompatível com o capitalismo em todas as suas variações ou etapas. A construção do socialismo passa pela ruptura e superação do capital porque é intrínseca a exploração, acumulação e a dominação. A luta de classes não pressupõem a conciliação entre elas.
Eu andei por becos, favelas, presídios, escolas, comunidades diversas. Tentei o mestrado na PUC, UFRJ, USP, UNIFESP, UNESP. Não tive indicação e nem apelo pra relações pessoais ou bajulação, antes repudio-as! Construi e desconstrui família. Desfiz relações e vínculos artificiais. Sou educador, militante das causas populares e trabalhadora antes por origem de classe que por afinidade ou filiação ideológica. Sempre fui, muito antes da formação acadêmica e nunca reneguei isso, tampouco me identifiquei ou aspirei a Casa Grande. Não se trata de toma-la de assalto, antes demoli-la! O pé atolado na rua de terra batida ao lado da ferrovia, o trem abarrotado, os cadáveres nos trilhos, os becos e biqueiras nunca permitiram deslumbrar-me ou me seduzir pela boa vida acadêmica do Casarão e dos arcos do Lgo São Francisco. Minha vida é o meu ofício e a luta, a revolta e a resistência são a sua essência. A ciência não é pura e nem imparcial. Política e ciência se complementam. O saber, o poder e a arte são produtos da sociedade. Não são o patrimônio de indivíduos, tampouco devem submeter-se aos interesses do capital. O saber que se refugia por detrás da "imparcialidade" e se omite diante da miséria, da violência, da exploração, da injustiça é cúmplice do crime. Aquele que reivindica supostos "direitos" para auferir e/ou acumular bens - quaisquer que sejam - privados é um oportunista depravado e um parasita social. Aos olhos do senso comum, a sociologia reveste-se da aura de "ciência revolucionária" e formadora de "intelectuais críticos" - opinião equivocada que agrada aos diletantes, cínicos, ingênuos ou oportunistas. A "aura" revolucionária pouco coaduna com as contradições entre a teoria e a realidade, entre a práxis e o discurso. Fundamentais para a interpretação da realidade e a construção de modelos coletivos que busquem a ruptura da ordem burguesa e a superação do capital. Nenhuma novidade, a ciência, a arte e a política continuam reservadas as elites e a classe média, porem, a organização da classe trabalhadora e a superação do capital cabem senão ao proletariado e ao povo. As pretensas vanguardas intelectuais burguesas a gauche não representam e nem podem pretender conduzir ou redimir o povo.
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