quinta-feira, 6 de junho de 2013

Política popular e poder - Nova Iguaçu 2005

Nova Iguaçu é uma das maiores cidades do Estado do Rio de Janeiro. Situa-se em uma das regiões mais pobres e violentas também - Baixada Fluminense. Lá era a "terra de Tenório", como os seus habitantes mais antigos faziam questão de ressaltar, saudosos e orgulhosos. Tenório Cavalcanti era um político de origem nordestina, homem do povo, populista e que fez fama por enfrentar adversários inclusive na bala. Ficou conhecido por usar uma "capa preta" aonde escondia uma submetralhadora chamada "lurdinha." Conta-se que quando era deputado federal em um debate intimidou tanto ACM que o fez urinar nas calças. No inicio dos anos 60 aproximou-se da esquerda. Com o golpe de 64 foi cassado e nunca mais retornou a politica, falecendo em 1987. Estive lá durante todo o ano de 2005, trabalhando na Secretaria Municipal do Trabalho e Emprego, no primeiro ano da gestão Lindbergh Farias. Assim que cheguei, embora fosse paulistano de periferia, o contraste causa algum impacto. Nova Iguaçu imediatamente me pareceu uma imensa Francisco Morato, um imenso bairro dos Pimentas, um Capão Redondo em escala maior. Embora seja uma cidade rodeada por morros, as comunidades habitam as encostas, sendo os bairros na sua maioria horizontais. O domínio das facções é acintoso. Tanto quanto a miséria a violência incorpora-se a paisagem - fuzis e as marcas do tráfico estampam os becos, vielas, lajes, muros, escadarias. A penetração do crime organizado na comunidade perpassa a politica, a economia e a cultura. O controle é rigoroso e dividido entre o Comando Vermelho (CV) e o Terceiro Comando (3C), devidamente assinalados nos muros das casas e nas portas dos comércios. Diante desse enorme poder, negligenciado, ignorado ou subestimado de acordo com as conveniências, utilizando-se de diversos meios e recursos para se impor e ocupar os espaços públicos, cooptando e angariando simpatia e apoio, o tráfico é o único poder real nas comunidades.  Nesse contexto, evidente que não se trata há muito de mero e exclusivo "caso de policia", na medida em que conforme a sua penetração perpassa por diversas esferas da sociedade, a sua desestruturação passa por um conjunto de ações de instituições publicas articuladas de modo a atingi-lo em diversas frentes. Se a Segurança e o Judiciário são importantes, a Educação e a Cultura não são menos, embora a visão estreita aliada ao comodismo ainda predominem no setor publico. Abaixo algumas mensagens trocadas no distante novembro de 2005 com o  ex-subsecretario de Saúde e militante da baixada fluminense Marco Valeriano, permeado por criticas a atuação de indivíduos e grupos incompetentes e deslumbrados com o poder e que caracterizam a nossa politica, comprometendo  qualquer iniciativa participativa e de caráter popular que rompesse com a logica perversa do clientelismo e assistencialismo que até então imperava. 

Fraterno Miranda Junior,

Cumprimentando-o pela manutenção desse nosso "diálogo da resistência" hoje me reservo a descrever, com modificações minhas no texto, para torná-lo de caráter genérico, os dois parágrafos finais do artigo do sociólogo Ricardo Antunes (JB - Outras Opiniões - A11 - 27/10/2005) intitulado: UMA NOVA ALTERNATIVA.
Acredito, como posto no referido texto, que precisamos traçar uma trajetória de recuperação das generosas bandeiras do socialismo, do comunismo, do anarquismo, do humanismo, da liberdade. Quer lutando pelos ideais da igualdade social quanto da emancipação humana, presentes no ideário e na ação do melhor desses movimentos.
Recusa a lógica destrutiva do Capital, hoje dominante em escala brutal e que destrói, corrompe, degenera, coopta a humanidade que trabalha (Nos bares iguaçuanos que vc menciona se confundem o lazer legítimo dos trabalhadores e das camadas médias iguaçuanas com o inebriado devaneio de "servidores públicos", ao toque da alienação de uns e da soberba vaidade de outros, auto-intitulados "gestores", pseudo-intelectuais orgânicos de uma Cidade apartada pelo modelo excludente histórico, em que seu "Muro de Berlim", materializado na "Parede da Ferrovia", divide a cidade em duas, três ou mais..., onde seus bairros periféricos são como guetos de abandono, onde ali concentram o povo, senzalas da modernidade, bem distantes da "Casa Grande K11, onde bem vivem os Senhores", e por vezes sem acesso a "Prefeitoria Central", que surreal jaz erguida ao largo do Campo Santo municipal.), através  de precarização do trabalho e do desemprego estrutural (Em Nova Iguaçu,grifo seu, o Gestor do Trabalho preocupa-se com elaboração de questionários de pesquisas, que levantem indicadores sociais dessa perversidade do capital, a despeito de buscar mecanismos de fomento de geração de emprego e renda, que rompa com esse desemprego, enfrente a desregulamentação e informalidade do trabalho, e suas formas de precarização, flexibilização, terceirização, ou os nomes que os valham), ou ainda pela destruição da natureza, para não falar de sua brutalidade belicista e agressiva contra a humanidade (O maior projeto por ex: da Secretaria de Transportes em Nova Iguaçu,grifo meu, é implantar a "Indústria das Multas", realizando concurso público que legitimará Agentes Municipais, em belicosos multadores compulsivos, espalhando "Pardais Eletrônicos", big-brothers viários da ganância arrecadatória, em detrimento de projetos sérios de reordenamento dos transportes públicos, de construção de terminais intermodais de transbordo, de simples abrigos de espera em ponto de ônibus (inexistentes em Nova Iguaçu)...). Recusa a grotesca apologética de que o capitalismo é o fim (e o máximo) da história (Ou o começo para essa trupe neoliberal que cerca a gestão do Lindberg).
Recusamos aceitar que a política brasileira esteja inevitavelmente estancada (congelada) no centro, onde é difícil saber, inclusive, quem está mais à direita ou mais à esquerda (Em Nova Iguaçu essa percepção ideológica é hoje quase impossível de ser feita), tantas são as similaridades de fundo (para não dizer inexistência de princípios ideológicos e superlativos replicantes oportunistas e traidores). 
Devemos à missão da reconstrução dos valores que nos são tão caros, auxiliar, junto com tantos outros movimentos de inspiração transformadora e emancipatória, para que ressurjam esses princípios que norteiam (ou melhor ainda, "sulteiam") nossas Utopias libertárias, neste início do século XXI, desafiando, no que se possa, a falácia da globalização e unilateralidade do "Império", para que se converta em uma nova alternativa para a humanidade (incluída aqui a iguaçuana).

saudações socialistas! 

Marco Paulo Valeriano de Brito             
Enfermeiro - Teólogo - Sanitarista



Caro companheiro Valeriano

Perdoe a ausência momentânea. Também compartilho os cumprimentos pelo nosso dialogo de resistência e protesto. Compartilho igualmente dos valores socialistas e as capacidades de resistência e revolta! Agradeço pelo artigo do grande professor Antunes, eminente da minha formação. Concordo sem reservas com tudo o que escreveram, embora pense que não cabe comparar o “lazer etílico” ou a fuga desesperada e desesperançada das classes laboriosas nos "bares da vida" com o vício irresponsável e inconsequente daqueles se fartam de álcool para "conspirar" e proferir bravatas, porque não dispõem dos elementos fundamentais ou as qualidades para realizar as transformações necessárias que os que neles votaram tanto esperam. Enquanto isso, Nova Iguaçu, de fato, duas cidades, a do centro aonde se situa a “Prefeitoria” e a “Casa grande K11” segue dando as costas a imensa periferia a sua volta – KM32, Miguel Couto, Cabuçu, Austin, Posse, etc. 
Com exceção do Centro e K11, Nova Iguaçu realmente não passa de uma imensa periferia! Assim, não faltam “atrações culturais” no Centro e no K11, promovidas pela Secretaria de Cultura, de modo a concentrar ainda mais as iniciativas publicas no centro, relegando a margem a periferia que tanto carece de outras alternativas de lazer para alem do boteco da esquina, entre inúmeras outras políticas publicas. Trata-se da boa, velha e manjada política da visibilidade! Nada dá mais visibilidade do que o centro. Perguntar não ofende: precisava de QUATRO secretários para uma politiquinha de cultura muito da medíocre?  A noção deles de cultura se resume a mero "entretenimento". Próprio de quem também não deve ter muita cultura mesmo, a sua política igualmente se equivale. 
Bons tempos em que a cultura servia a outros propósitos mais elevados que APENAS o mero entretenimento. No ano em que o mundo lembrou os 60 anos do fim da II Guerra a Secretaria de Cultura de Nova Iguaçu se esqueceu ou ignorou este fato. Talvez fosse necessário mais um secretario para se lembrar disso. E dá-lhe festa!!!! Vamos dançar meu povo, sem dinheiro, sem trabalho, sem futuro e sem cultura!!! Isso porque ainda Nova Iguaçu tem uma Associação de Ex-combatentes, veteranos vivos e um mausoléu no cemitério da cidade. Vai ver os secretários ignoram quando terminou a II Guerra, mas, de forró, festa e barzinhos eles sabem! Daniel Guerra e Roberto Lara são "figurinhas carimbadas" da noite iguaçuana, claro, no Centro e no K11! Nenhum problema na boemia, desde que não exponha o governo e, consequentemente a esquerda ao escárnio e a sarjeta.   É publico e notório o apreço dos "secretários de botequim" por uns copos em excesso e barzinhos, já pela cultura... . Para quem sequer se lembrou de um dos maiores acontecimentos do século XX, seria pedir muito que se lembrassem dos 50 anos da morte do maior cientista do mesmo século - Albert Einstein - dos 60 da morte de Mario de Andrade, dos centenários de Érico Veríssimo e Jean Paul Sartre, dos 150 anos do pai do Existencialismo Sören Kierkegaard, dos 20 anos da democracia, dos 30 anos do movimento punk e, “comunistas” que se dizem, sequer dos 70 anos do Levante de 35! E dá-lhe festa! Vamos cantar, dançar e encher a cara! Isso é que é cultura! Próprio de uma gentalha tosca, limitada, medíocre! Por isso a sua cultura só pode ser rasa, rasteira, "pé de chinelo” e não "pé de serra"! Na verdade, penso que está mais pra “pé de merda” mesmo! E viva a auto-promoção as custas do erário publico! E viva o emporcalhamento dos muros e postes da cidade em nome da auto-promoção! E viva a falta de vergonha na cara e a cara de pau do Daniel Guerra! A propósito, o cara tem que ter um ego maior do que a vergonha mesmo, para sem nenhum pudor encher a cidade de cartazes se auto-promovendo!  "Pimenta do Reino" nos olhos do povo é refresco! Na psicanálise de folhetim isso se chama "complexo de inferioridade", mas, bem que poderia chamar "Síndrome de João Ninguém"! Típico de gente vulgar, imatura e irresponsável em busca de auto-afirmação a qualquer preço. Outdoor para promover o próprio aniversário, porem, extrapola o senso do ridículo! Confessem, deu vontade de ir nessa festa, não?! Francamente! Ora, Daniel Guerra e Roberto Lara, vão estudar história, filosofia, literatura, cinema, ciência política, musica, ou qualquer coisa relacionada à cultura, como se espera de alguém com as responsabilidades que cabe a um secretario de cultura!
Nova Iguaçu está entregue nas mãos de gente burra, orgulhosa da própria ignorância, excessivamente vaidosa, embriagadas pelo "poder" - para usar uma expressão etílica, bastante apropriada aos supra citados – e que pensam que fazer política de cultura é o mero nivelamento da população ao seu gosto pessoal duvidoso. Para não ser injusto, ponto para a feira de livros e a palestra do grande filosofo Antonio Negri, porem, ambas no CENTRO. 

Saudações Socialistas sempre!

Mario Miranda


Caro Mário Miranda,

Sem embargo dos corajosos e elogiáveis propósitos que inspiraram seu E.mail  de protesto às práticas que vivencias-te no Governo da Cidade de Nova  Iguaçu, especialmente na Secretaria Municipal de Trabalho, quando ocupas-te  o cargo de Subsecretário, não poderia deixar de acolhê-lo com minha solidariedade.
A decisão que adotei teve como fundamento maior os fatos de que os objetivos que se pretende alcançar na GESTÃO LINDBERG FARIAS, já que são procedentes suas críticas, corroboradas com as que também fiz, tendo nós dois o mesmo destino perverso de sermos rechaçados pelo "NÚCLEO DURO" do prefeito e seu
particular instrumento condenatório, AD INQUISITÓRIUM, ao arremedo de um tribunal de exceção, inadequados ao governo popular e democrático capitaniado pelo "nosso" Partido dos Trabalhadores - PT, numa coalizão ampla e irrestrita (infelizmente), única situação conjuntural possível e bem compreendida pela população, para retirar do poder as oligarquias que dominavam a Cidade desde sua fundação, mas que percebemos agora não saíram e ainda estão fazendo novos discípulos naquele governo municipal, com todos os adjetivos que você tão bem enumerou. Tanto assim, que na rede pública do município, tem sido secundário o princípio da probidade, competência técnica, transparência, publicidade, otimização, ética, princípios estes inalienáveis a um governo popular e que infelizmente a BOA VONTADE, VOLUNTARISMO, UTILITARISMO, E CARISMA do prefeito Lindberg não estão sendo suficientes para resgatá-los contemplando à população com políticas públicas que enfoquem as prioridades traçadas nos vários planejamentos estratégicos setoriais implementados pelas diversas Secretarias de Governo e as Macro-políticas propostas pelo plano diretor de ação, fruto do próprio projeto de governo, pré-eleição, associado ao diagnóstico dos problemas a serem enfrentados prioritariamente na Cidade de Nova Iguaçu, objetivando justamente o CUMPRIMENTO INAFASTÁVEL dos compromissos estabelecidos com o Povo Iguaçuano, a militância petista e dos partidos progressistas coligados, o movimento popular organizado, e mais ainda, NEUTRALIZAR todas as tentativas conservadoras de ENGESSAR O GOVERNO LINDBERG. 

Saudações

MARCO PAULO VALERIANO DE BRITO

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