segunda-feira, 16 de maio de 2011

Dos amigos


Dialogo entre John Roselli e Sam Giancana:
Roselli: Sam, esse é um “amigo meu.” Tem muito interesse em participar dos nossos negócios em Cuba.
Giancana: O senhor foi muito bem recomendado por um “amigo nosso.” Sua reputação o precede.
Sam Giancana foi o sucessor de Accardo e Nitti na Máfia de Chicago, um dos grandes chefões do crime organizado norte-americano do século passado. Supõe-se que esteja envolvido no assassinato de John e Bob Kennedy. Tinha também ligações com dissidentes cubanos e negócios na Ilha a época de Fulgêncio Batista. De acordo com relatórios da CIA, desde 1960 estava envolvido em conspirações da Máfia e da Agência para assassinar Fidel Castro. Era também amigo de figurões de Hollywood, como Frank Sinatra e Marylin Monroe, sendo suspeito de encomendar a morte dela. Dizem que a cena do filme O Poderoso Chefão, em que Don Corleone pede um favor para seu afilhado Johnny Fontaine a um figurão de Hollywood teria sido inspirada em uma historia dele com Sinatra, quando este começou sua carreira solo. 
Roselli começou sua carreira na máfia nos anos 20, ao lado de Capone, Nitti e Jack Dragna. Foi colaborador da CIA nas conspirações para assassinar cubanos e na invasão da Baia do Porcos. Supõe-se que também estivesse envolvido no assassinato de Kennedy, de acordo com relatórios da CIA, FBI e Pentágono. 
O agente da CIA Robert Maheu declarou em diversas comissões do Senado Americano haver recrutado para a Agência os serviços de Giancana, Roselli, Carlos Marcello e Santo Trafficante, chefão da Máfia de Miami. Enfim, não restam duvidas, conforme inúmeras declarações e documentos da ligação Máfia e CIA nas diversas conspirações para apear Fidel do poder em Cuba e assassiná-lo. Em meados da década de 70, quando o cerco fechou-se sobre eles, Trafficante, o único em liberdade cuidou de silenciar os antigos companheiros para o beneficio de todos. Gincana foi fuzilado em casa, com sete tiros na cabeça e no rosto, Roselli foi encontrado fuzilado e estrangulado em um barril boiando na baia de Miami. 
Em Brasília, o Ministro Antonio Palocci (PT) é defendido pelo vice Presidente Michel Temer (PMDB) após ter revelada, pelo jornal Folha de São Paulo, elevação patrimonial em mais de vinte vezes em apenas cinco anos. No que diz respeito a noticias sobre a relação enriquecimento célere e política no Brasil, nenhuma novidade. Esse mesmo senhor esteve envolvido antes em escândalos muito piores – prostituição de luxo, corrupção, tráfico de influencia, favorecimento ilícito, quebra de sigilo bancário. Por outro lado, ser defendido por esse outro senhor, que foi Secretário de Segurança paulista a época do Fleury, que anteriormente bateu-se por Renan Calheiros, Jader Barbalho e José Sarney já deveria ser considerado dúbia réus sentit. Palocci declarou que procedeu o milagre da gigantesca evolução patrimonial prestando serviços como “consultor.”A defesa de Temer a Palocci, por sua vez, poder-se-ia reduzir a sentença: “amigo nosso.” 
Dialogo do ex ministro e ex deputado (PT) José Dirceu com um empresário qualquer: “Pode deixar, vou ligar para o Ministro. Vou dizer que você é “amigo meu.” Após sair da cena política – não dos bastidores - esse outro senhor tornou-se “consultor.” Em comum com estes distintos “consultores” compartilham do oficio os senhores Thomas Bastos, Greenhalg - dito LEG -, Delúbio Soares, Silvio Pereira entre outros. Dirceu, Bastos e LEG são também advogados. Temer também é. Os advogados são como consultores, o sucesso da defesa depende não só do saber jurídico, mas, de boas relações pessoais nos meios jurídicos. Da mesma forma que contratar um “consultor” ex-ministro ou parlamentar também não atrapalha ter um advogado com a mesma procedência, sobretudo quando se sabe das suas relações e transito nas altas cortes. No Brasil, evidente que o sucesso dessas “consultorias” em contratos públicos e licitações, bem como absolvições e habeas corpus concedidos dependem exclusivamente do notório saber e expertise dos referidos “consultores”. Como aqueles também não fazem distinção de espécie alguma quanto aos clientes, afinal, pra todos os efeitos pode-se apelar para a presunção de inocência, ausência de condenações - como o companheiro Maluf  faz - e incontáveis filigranas jurídicas ambíguas e de caráter duvidoso. No limite, pode-se apelar até para teorias da conspiração, perseguição política, intrigas da oposição, golpismos, espernear e clamar em nome da defesa da democracia apelando para prerrogativas - ou privilégios? - que são exatamente incompatíveis com ela! Antes essa democracia não estava ameaçada? Nenhuma novidade: os amigos são sempre leais e compartilham até os mesmos surrados "argumentos" para se defenderem. Impressiona como essa nova "intelligentsia" aprende rápido - Florestan já anunciava a transformação em "partido da ordem".
Evidente que a utilização de recursos tecnológicos em qualquer empreitada também pode fazer a diferença. Nesses casos é impressionante o que um aparelho de celular com os números certos pode fazer! Descobriu-se que o senhor ex-Ministro Palocci é dono de um apartamento de cerca de 500 m2 em São Paulo no valor de 7 milhões de dólares. O senhor José Dirceu voou de Juiz de Fora em Minas Gerais há poucos anos como “consultor” até a Venezuela em jatinho particular alugado exclusivamente para isso. Não se tem noticias de que Prestes,Florestan ou mesmo Brizola viajassem em fretados - helicópteros, aviões, lanchas, carros. Desconfio que se estivessem aqui hoje também não seriam consultores. Greenhalg representa o banqueiro mafioso Daniel Dantas e Thomas Bastos o estuprador de mais de 200 mulheres e procurado pela Interpol Abdelmassih. Enfim, com exceção de Bastos, todos os demais são políticos com longa tradição de militância na esquerda do país e quadros históricos do PT. Hoje são empresários, consultores, íntegros homens de negócios, enfim, burgueses capitalistas em busca do lucro como qualquer outro. 
Tal esquerda no que diz respeito aos seus hábitos, gostos, vícios, práticas e valores, assemelha-se em tudo a burguesia, exatamente aquilo que antes repudiavam e desprezavam. Sem nenhum pudor mantém o discurso, embora suas práticas, gostos e patrimônio demonstrem o exato oposto! Não existe contradição para esses senhores em ostentar patrimônio milionário, hábitos burgueses, práticas clientelistas e populistas e discurso de esquerda - rebaixando e desqualificando as suas organizações, lutas e tradição. No escritório político pôster do Che na parede, na sala de casa Baccarat e Swarovski. No closet da nova elite do poder Ricardo Almeida e Ermenegildo Zegna. Oras, por que a classe operária não pode ir ao paraíso? Afinal, não foi para isso que se bateram contra a ditadura? Para desfrutarem do poder e compartilharem dos padrões, hábitos,  práticas e valores da burguesia? Contradições, dialética, luta de classes, ideologia, coerência entre o discurso e a práxis, conforme ensinou o mais novo Doutor Honoris Causa da esquerda: bravatas! A luta contra a ditadura servirá ad infinitum como atestado de ilibada idoneidade moral, dispensando-se da ética e coerência ideológica - pra debaixo do tapete com a sujeira. Lutaram pela democracia para reivindicarem o direito de usufruírem dela a despeito de enfraquecerem-na e o conteúdo ideológico inerente a política. Para locupletarem-se e perpetuarem-se no poder e em nome da ética, do socialismo, da justiça social e da democracia aliam-se a adversários e inimigos históricos, tanto da esquerda quanto do povo e da democracia. Como se a demagogia, o desenvolvimentismo e o populismo pudessem redimir a ética, a ideologia e a historia. A diferença entre “amigo nosso” e “amigo meu” parece sutil, porem, para efeitos práticos daqueles que ocupam posições na esfera política ou de Estado e/ou tem negócios e interesses ligados a eles compreendem bem o seu sentido e importância. Conforme ensinam os que apreciam uma boa amizade, a diferença entre “amigo nosso” e “amigo meu” é pertencer a família e/ou grupo ou estar ligado a ela por circunstâncias e/ou interesses. Nada a ver, portanto, com afeto e muito menos com virtude.

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