domingo, 22 de maio de 2011

Protestos, juventude e política


Nas ultimas semanas tivemos dois relevantes exemplos de mobilização da classe media em São Paulo. Por mais que se apreciem tais iniciativas, sobretudo a mídia e os mais ingênuos ou oportunistas, a verdade é que ambos nada dizem a imensa maioria da população paulista, a despeito da sua importância. Descontando-se a ambição em provocar o debate importante sobre  transporte publico e mobilidade urbana, o “Churrasco da Gente Diferenciada” não foi nada além de uma gozação em forma de protesto contra o preconceito da elite e o governo elitista. Claro está que tudo não passou de uma brincadeira com o objetivo de provocar um fato midiático e ridicularizar as elites e o governo. Tolice inútil porque não afeta a elite e nem o governo, tampouco colabora para o debate em torno da questão do transporte publico. A elite é essencialmente burra, preconceituosa e pedante e expor as suas idiossincrasias fortalece-a e os une ainda mais! Relevante é considerar ainda que tal manifestação fosse organizada pelas redes sociais Twitter e Facebook e isso já diz muito sobre quem organizou esse evento. Será que a maioria dos trabalhadores populares daquela região – porteiros, faxineiros, empregados domésticos – se utilizam de qualquer uma delas? Será que os jovens de classe média também estejam agora preocupados com o transporte publico e a classe trabalhadora e pobre? O fato é que quem organizou, depois pegou seu automóvel e voltou para casa com a consciência tranquila por haver cumprido com a sua “obrigação cívica de cidadania”, ignorando as represálias que recairão sobre os empregados que precisam conviver cotidianamente com essa odiosa elite! Enfim, travessuras da jovem burguesia engajada e inconsequente! Os que estavam lá não se pareciam com os que se amontoam nos ônibus e trens da cidade. 
Essa mesma juventude engajada, ou pelo menos a maioria esteve também agora no dia 21/05 na Paulista na Marcha da Maconha. Aos eu 17 anos marchei nessa mesma Paulista no Fora Collor - sem entrar no mérito da manipulação midiática e na questão Lulla/Collor. Depois marchei na Luz contra as paradas militares do 7 de setembro. Marchei pela educação na Republica e contra as privatizações na Sé entre 99 e 2001. Duas coisas me chamaram bastante atenção nessas duas manifestações: a irrelevante presença de negros e os locais escolhidos. Sem duvidas, no caso de Higienópolis não poderia ser outro o local, sobretudo, quando explicitou-se de saída o objetivo de apenas ridicularizar a elite daquele bairro. O caso da Paulista se explica pela tradição e visibilidade do local – novamente causar um fato midiático -, por outro lado, não se deve descartar a acessibilidade, simpatia e familiaridade dos manifestantes pelo local. Será que a ausência dos negros em ambas as manifestações se deve ao fato deles serem menos politizados, engajados ou alheios e alienados as "grandes causas" da sociedade? Até parece!
Evidente que se trata de questão de classe! Primeiro que a imensa maioria da população e usuária dessas duas drogas – maconha e transporte publico – são pobres, portanto, não tem acesso as regiões em que elas aconteceram e nem as ditas “redes sociais.” Segundo que quem tem acesso, por motivos óbvios prefere não se expor – sabe que o chicote estala sempre é no lombo do preto, pobre e favelado! - e recolher-se ao seu merecido descanso no aconchego do lar, sobretudo, ainda para poupar os 6 ou 12 reais que gastaria no transporte para isso. No mais, afinal de contas para quê? Para ver a jovem pequena burguesia engajada tirar onda com as madames de Higienópolis? Ou para que eles possam fumar o seu baseadinho avonts na "facu" ou na "Madá"? Marchar nas quebradas ou morros ninguém quer! Por que ninguém marcha também contra o extermínio dos jovens negros ou contra a violência doméstica – mulheres e crianças? A verdade é que as motivações da jovem burguesia engajada dizem respeito ao seu caráter individualista. Enfim, as chacinas que acontecem cotidianamente nos lares e ruas das periferias e o péssimo transporte publico estão longe demais da “realidade” dessa juventude engajada! Como a saúde, escolas, segurança, habitação publicas, entre outros direitos e demandas sociais. São tragédias, fatalidades, miséria, casos de polícia ou de assistência social, nada a ver, portanto, com os nossos bons e conscientes estudantes marchadores em questão! Para finalizar, a grande mídia agradece a demonstração de consciência e engajamento! Se a intenção foi provocar conseguiram: gargalhadas, desprezo, pena, preconceitos e raiva. Desqualificaram e esvaziaram o conteúdo político e/ou técnico das questões, oferecendo maiores argumentos e justificativas aos autoritários e reacionários. Depois ainda “choram” que “o jovem no Brasil nunca é levado a sério.” Assim fica difícil....

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