Em muitas coisas ela se parece comigo - aparência, temperamento, curiosidade intelectual. Como eu fazia, aos 4 anos ela já escreve o nome, gosta de musica, de pintar e desenhar. Por outro lado, já percebo outras características. Percebo alguma ansiedade, insegurança e melancolia. Coisas que se percebe na sutileza do olhar, por meio da paciente observação e que nunca se revelam, insinuam-se. Eu já era mais explicito - quase impossível encontrar uma foto minha sorrindo, sobretudo, durante a infância. Impressiona como certas fotos são capazes de captar e congelar um momento, quase que como definindo uma pessoa ou o seu estado de espirito. Em muitas fotos já se insinuam a personalidade e a mulher, como nas minhas já se percebia pelo olhar a personalidade melancólica e introspectiva. A distancia - física e no tempo - nos faz perceber coisas que escapam ao convívio. Lembro-me de cada uma das suas fotos. Ela, ao contrário, quase sempre esta sorrindo. Sempre procuro provocar-lhe o riso, desde a mais tenra idade. Temos uma foto em que eu balançava a cama com ela deitada, ela devia ter menos de um mês. Eu dizia estar brincando de "terremoto" e falava com ela, sorria, fazia caretas enquanto tremia a cama com as mãos ao lado dela. Nessa foto percebe-se a sua atenção e o pequeno sorriso. Nascia aí a criança alegre e ativa que conheço até hoje. Com três meses ela gargalhou pela primeira vez, causando espanto geral dentro do ônibus na volta do RJ para SP. Cada solavanco que o ônibus dava eu a levantava como se ela estivesse sendo atirada para o alto. Numa dessas subidas ela gargalhou bem alto para o espanto de todos. Ela era a minha moleca, hoje ela já não é tanto, vejo-a sendo cada vez menos. Está crescendo, perdendo a inocência e se ajustando a sociedade, renunciando a sua infância em nome de tolices e ou preconceitos de caráter moral, religiosos ou estético que lhe são impostos. Ela sempre foi uma menina ousada e ativa. Eu dizia que ela era uma menina com espirito de moleque. Gostava de andar de motoca, de cavalinho, de correr e de "voar" - eu colocava ela em um dos braços e saia "voando" com ela pela casa até enquanto meu braço aguentasse. Desde cedo ela se apaixonou por musica. Ela ouvia na barriga da mãe e depois nós ninávamos ela cantando. Eu sempre cantava Carinhoso, Leãozinho ou Acalanto. As vezes colocava o CD do Belle and Sebastian bem baixinho e apenas balançava-a. Pela manhã levava ela pra andar. Eu era assim e apesar disso tudo ainda escapava e usava álcool e drogas. Sentia-me nojento e culpado depois - até o dia em que a culpa me levou a odiar-me como odeio-me ainda. Apesar disso tudo prevaleceu para a sua mãe apenas os meus vícios, ela se foi e
nós perdemos essa cumplicidade e eu a minha alegria, fé e esperanças.
Apesar disso tudo nos amávamos e eu ainda a amo mais. Eramos felizes e ela sabia - eu é que não.
INCRIVEL COMO VC ESCREVE COM A ALMA,E MOSTRA COMO É LINDO E INSUBSTITUIVEL,SEU AMOR POR SUA PEQUENA.AMO ISSO.E DESEJO QUE VOCÊ POSSA COMPARTILHAR TODOS OS DIAS DE SUA VIDA COM ELA.POIS VC É UM MARAVILHOSO PAI.DEUS OS ABENÇOE
ResponderExcluirTambem desejo o bem - porque o mal pode-se buscar sozinho e, as vezes, basta não fazer nada. Amor para ser uma pessoa melhor, paz para viver melhor, coragem para transformar a vida.
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