quinta-feira, 19 de julho de 2012

Recaídas

Minha ultima recaída durou dez meses. Qual tratamento publico prevê ou pode tratar esse tipo de recaída, muito embora os experts governamentais - em drogadicção ou  propaganda? - afirmem categoricamente: "Crack, é possível vencer!"? Foram dez longos meses de uso. Nesse longo período, não fiquei uma única semana sequer sem usar. Imagino que devo ter consumido uns doze mil reais, no mínimo - pode ser mais, sem dúvidas. Incluo nessa conta álcool e tabaco. Ela começou após uma grande expectativa frustrada, após  nove meses de luta e resguardo, fé e obstinação, resistência e esperança. Recebi-a como premio de consolação após todo esse período de luta e derrota. Um homem pode lutar contra tudo e todos, mas não pode faze-lo sozinho. Um homem pode lutar contra o mundo, mas ainda terá de enfrentar a si mesmo. Ainda estou exausto, cético, porem, resoluto.
Há os que criticam, julgam, humilham, desprezam, insultam. Poderosos na mediocridade! Seguros na resignação! Corajosos na impotência! Infalíveis na certeza! O que será mais quadrado, as suas ideias ou as nádegas? A realidade das ruas não cabe nos ideais pequenos burgueses, no mundinho perfeito da classe media, nas teses ou políticas de gabinete. Envolve absurdos, excessos: miséria, violência, abandono, medo, dor, tristeza, solidão, desprezo, brutalidade, omissão, exclusão. Atinge adultos, jovens, idosos, crianças. É um mundo à parte, uma realidade paralela difícil de encarar e aceitar. Impossível soluções definitivas! A complexa multiplicidade de fatores que levam uma pessoa à essa situação não pode ser explicada nas poucas linhas deste texto e nem pode caber nas teses dos "experts" governamentais ou não. Não existe solução total, talvez para aqueles que de modo mais sutil, porem não menos perverso, sustentam uma espécie de "solução final."
Quando se chega nesse ponto, esquece-se a vida e o mundo, apenas se vive o momento sem se importar com o seguinte. Em meio a mortes, misérias, mentiras, hipocrisias, tristezas, violências, humilhações, abandonos, revoltas, ainda assim sobrevivi, por isso luto!

2 comentários:

  1. O problema de cada escolha individual seria do Estado? Acho que cabe ao Estado reprimir a atividade criminosa por detrás do crack e de qualquer droga, já que sabemos que o comércio de cada uma delas está ligado a redes criminosas que enriquecem com isso e não hesitam em usar violência para garantir pontos de venda ou cobrar suas dívidas. Dar apoio aos viciados, beleza. No entanto, imputar toda culpa somente ao Estado é errado. A sociedade como um todo tem parcela de culpa, já que o crack e outras drogas estão, de certo modo, ligados às parcelas excluídas, mas há também o componente individual: cada um é senhor de suas escolhas e destino.

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    1. Escolhas? Sei. Claro, é o individualismo em estado bruto! Como se as pessoas compartilhassem das mesmas condições materiais para determinar as suas escolhas! Oras, a desigualdade de recursos, oportunidades, incentivos é que condiciona as escolhas, depositar a responsabilidade de um problema social nas costas do indivíduo - que é a vitima! - é o cumulo da ignorância ou cinismo!

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