sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Crise?


Outra crise! Não é a crise econômica - mundial (?) - nem a minha - existencial. Desconfio, aliás, dos mercados e seus "valores", "racionalidade" e crises artificiais. É intrínseca ao dito a produção não só de mercadorias, hábitos, gostos, valores, mas, também de crises. O que uma mão faz a outra não vê, afinal, trata-se da onipotente e onipresente "mão invisível"! Produção e consumo patológicos em massa!!!
O medo e/ou o desconhecido intimidam, paralisam, levam ao pânico, desespero, angustia. É por meio deles que se pode confundir controlar e manipular. A dúvida também pode levar ao caos, a raiva e às reações estúpidas. Contra eles reage-se, muitas vezes instintivamente, em função da sobrevivência e/ou necessidade, mas, o que vale pra natureza nem sempre se aplica a sociedade e aos ditos mercados.
Sim, é a crise... da esquerda. Assim, penso que seja necessário definir minimamente aquilo que podemos chamar por esquerda. Conforme as minhas limitações e as impostas por este espaço, reduzirei ao máximo esta definição. Desse modo, esta será analisada de acordo com a definição clássica - vanguarda política. De um modo geral, podemos dizer que pessoas, movimentos (fatos e atitudes), instituições simbolizam ideias ou ideais. Assim,  Prestes e Marighella estão para a esquerda no Brasil como o Che e Fidel o estão para Cuba, Allende e Neruda para o Chile e a América Latina.Todavia, o atual contexto - Globalização, democracia, pós Guerra Fria - do ponto de vista objetivo e, a pós-modernidade, do ponto de vista teórico, tornaram tais símbolos anacrônicos, obsoletos, superados. Nesse "Admirável Mundo Novo" democrático, tolerante, progressista e globalizado Lula "Paz e Amor", Julian Assange, Bono Vox e até Barack Obama simbolizam-no de forma mais adequada e "coerente" (?!) - seria do ponto de vista estético? - bem como uma parte expressiva da esquerda (???!!!). Símbolos pop de uma esquerda cool, fashion, soft - seja de esquerda, porem, com moderação! Nesse cenário de ventos progressistas, primaveras "democráticas" pelo mundo, líderes fabricados globalizados carismáticos, altruístas e tolerantes, movimentos sociais transnacionais difusos e competitivos, diluição de fronteiras e pulverização da informação via mercados, mídia e tecnologia, protagonizam o povo, a liberdade, a igualdade, a fraternidade e a ambiguidade!
Nesse "Mundo Perfeito" não há mais lugar para revoluções, talvez revoltas ou rebeliões contra ditadores opositores das democracias ocidentais - afinal, segundo um sábio inglês,"a democracia é o pior regime com exceção de todos os outros"! Eis a época áurea da democracia, da cidadania, da tolerância, da paz, da inclusão, da inovação, da moderação, do espetáculo, do cinismo e do eufemismo! O triunfo da democracia e das esquerdas! As novas teses - revolucionárias?! - sugerem a substituição e/ou superação dos atores tradicionais - partido político, sindicato, movimentos populares - pelo terceiro setor e, mais ainda, o fim das utopias, das rupturas, das ideologias, das fronteiras, da própria história! Uma espécie de niilismo cínico e arbitrário combinado com uma esquerda que oscila entre o populismo/desenvolvimentismo e a social democracia conservadora.
A pequena burguesia - nova classe média (?) - é a nova representante/defensora das causas sociais - antes populares - e protagonista da história. Sim! Os defensores das "nobres causas" já não são mais apenas a nobreza altruísta ou a bondosa alta burguesia, tampouco as elites políticas tradicionais - aristocracias e oligarquias. Agora são pessoas como nós, ou quase. Gente que como aqueles, possuem um elevado senso moral e ético, abnegação e desprendimento material e nobreza de espírito publico e social. Eis a pequena burguesia e/ou emergentes! Gente que um dia foi pobre e/ou trabalhador e hoje são pequenos proprietários, patrões, micro empresários ou empreendedores individuais, porem, com grandiosas e eloquentes ambições e virtudes! Indivíduos que inspirados pelo American Dream se fizeram por meio do trabalho e da política! Os "self made mens" que prosperaram agora podem, das alturas da  "Roda da Fortuna" olhar para baixo e compadecer-se dos "losers" - seja da sua sacada, cobertura ou do hemisfério norte! De fato, isso é para poucos e só é possível na democracia!!! Only winners!!! Os modelos dessa nova sociedade caracterizam-se, antes de tudo, por serem empreendedores, pragmáticos, diplomáticos, workholics, infomaníacos, assépticos, saudáveis, descolados, antenados, desprendidos, abnegados e politicamente corretos! É a nova e velha classe média – oligarquias - unidas que irão nos redimir: os pobres, miseráveis, excluídos, injustiçados, bestializados, descamisados, marginais, fud......s! Sim, é a boa e velha burguesia incoporando novos quadros das classe subalternas, domando-lhes o impeto, barganhando o poder para continuar a sua farsa revolucionária histórica! Graças à aliança com a "esquerda" soft, Michel Temer e Sarney, por exemplo, são categóricos em afirmar que “agora o país não pode mais conviver com a pobreza.” Porque antes podia, ainda que  estejam há algumas décadas na vida publica. Imaginem o nosso avanço político e social, conforme o comprometimento e a capacidade dos nossos representantes se elegêssemos “comunistas” como a ex-cantora Rosana (PC do B/RJ) admiradora declarada de Getulio Vargas - vai ver ela é boa em Geografia!  
Com efeito, como é possível pensar em revolução ou ruptura quando a transformação acontece a pleno vapor e a olhos vistos, em todas as esferas e instituições da sociedade por meio das Organizações da Sociedade Civil! A constituição cidadã não é mera formalidade, é uma realidade efetiva por meio da ação dos novos atores políticos sem fins lucrativos! Legítimos representantes e organizadores da sociedade, interlocutores dos setores políticos tradicionais, parceiros e fiscalizadores dos governos e iniciativa privada! Lutam, mobilizam e articulam-se com esses atores em nome da educação, da justiça, da paz, da segurança, do emprego, do meio ambiente e de diversas minorias e grupos sociais! Quem precisa de um sindicato forte, combativo e antigo como o dos Professores do Estado de São Paulo quando se tem uma Ação Educativa ou Instituto Ayrton Senna, por exemplo, com os seus intelectuais humanitários dispostos a buscar parcerias institucionais e privadas em nome da educação, sem distinção partidária, política, governamental ou religiosa e, sobretudo, sem fins lucrativos! Tolice e leviandade supor que ao firmar parceria com a Fundação Casa, por exemplo, esteja chancelando aquela política governamental e enfraquecendo a classe trabalhadora do funcionalismo publico! Que seria da Brasilândia sem o Instituto Sou da Paz e o Espaço Criança Esperança? O Agenor estava certo, existe sim o "bom burguês"! Que seriam dos pobres, miseravéis, excluídos e viciados se não fosse uma parte da burguesia a estudá-los? Conheci certa vez até um jovem músico libertário e altruísta que nas horas vagas estudava-os! Ou seria o contrário - pobres e musica? Por sua vez, Juliana, educadora e ambientalista na baixada santista agradece ao Criança Esperança, bem como o MV Bill e a CUFA! Globo e voce tudo a ver? Ou não....
Nesse "Wonderful World", em nome do "poder popular" - populismo (?) - o "pragmatismo" - cinismo/oportunismo (?) - político ignora as "tergiversações ideológicas" e bandeiras históricas firmando alianças/parcerias até com adversários e inimigos. Por acaso haveria alguma incoerência ou contradição em se criticar ou mesmo atacar no âmbito local ou regional um aliado no plano federal? Qual o problema se em nome de uma nobre causa qualquer, esta ou aquela instituição firma acordo ou parceria com governos municipais ou estaduais de diversas e até antagônicas orientações político-ideológicas - quando não governos bandidos? Acaso o advogado recusa o dinheiro ou a defesa do seu cliente estelionatário, corrupto e sujo? Conforme o estatuto da OAB, tais práticas constituem meras "condutas indesejadas" - qual a diferença daquele que compra ou aceita objetos roubados? Assim em São Vicente, por exemplo, as principais ONG's estão ligadas ao PSB - governo municipal - e através desta parceria promovem a mobilização e inclusão social de diversas comunidades através de atividades esportivas, culturais, educacionais, sociais, filantrópicas. Embora seja sem fins lucrativos e não governamental, sobrevive exclusivamente de recursos governamentais movimentando alguns milhões de reais anualmente para benefício da causa p.... ! Assim, alem de ajudar - o governo ou o povo? - ainda leva a grife "esquerda PSB" - fora o dinheiro publico. Impressiona como nesse caso e em diversos outros, a abnegação das suas lideranças e o apreço ao trabalho social os faz viver pela, para e da instituição por anos a fio, na medida em que  evidentemente, o compromisso social é maior do que o apreço pela democracia. 
Por outro lado, nem a época da Ditadura assistimos a multiplicação de tantos movimentos sociais e o engajamento dos jovens em tantas causas populares e sociais! Quanta disposição para ocupar e marchar - da maconha aos zumbis! Incontáveis comunidades e mobilizações virtuais! Basta irmos a qualquer escola ou faculdade publica ou privada para verificar o elevado nível crítico, político, ideológico e o comprometimento publico e social - colado nos vidros dos carros, estampado nas camisetas, cadernos, celulares e mais recentemente, notes e tablets! Sobre o que conversam os jovens a porta da escola ou da faculdade? E nos bares? Vá a Maria Antonia, Praça Villaboim, Barra Funda, Perdizes, Largo São Francisco e USP entre outros locais para descobrir. Evidente que, ao contrário dos companheiros chilenos, argentinos, cubanos, chineses, franceses, ingleses, espanhóis, portugueses não é futebol, baladas, drogas, musica, moda, televisão, tecnologia, sexo, vaidade, luxo, etc... . Por isso que encontro diversos ex-colegas de faculdade, a época radicalmente anarquistas, socialistas, comunistas, libertários, enfim militantes, levando as suas ideias e ideais ao governo Kassab, Alckmin e em estatais ou autarquias nomeados por esses governos, em pastas ligadas a partidos e políticos como a CDHU da cota do Maluf. Outros militando em instituições sem fins lucrativos ligadas a diversos governos - afinal, tem que se ir aonde o dinh...quer dizer, "aonde o povo está" - em todos os âmbitos de poder e, a empresas e instituições nacionais e estrangeiras. Corajosos idealistas e  conspiradores, afinal, estão infiltrados no sistema para corroê-lo por dentro - Gramsci de contracapa.... Como disfarçar o gosto pelos habitos burgueses? Alias, seria ainda retumbante tolice debater a notável escola e educação publicas brasileira, as superadas diversas reformas históricas – agrária, jurídica, política, tributária, estatal, entre outras! 
Por uma questão de justiça e para finalizar, é bom que se diga: nada disso seria possível não fosse o caráter libertário intrínseco ao mercado - livre e igualitária concorrência, transparência e acesso a infra-estrutura e apoio públicos igualmente igualitários! Sem dizer no apoio e na farta, ampla, incondicional e irrestrita distribuição de crédito oferecido de forma igualmente livre, igualitária, inclusiva, transparente e desburocratizada pelo abnegado sistema financeiro e bancário! Nunca antes na estória desse país os brasileiros tiveram tanto acesso as vantagens de se ter uma conta bancária! Não são apenas as janelas que estão abertas, as portas estão escancaradas!!! Nunca antes tivemos tanto acesso a informação e tecnologia - hoje existem mais celulares que brasileiros (graças aos generosos investimentos do governo e operadoras!), tablets e notebooks nas escolas (dois professores por sala!), multiplicam-se as instituições de ensino superior e as suas matrículas, bem como os avanços seguidos nos exames de avaliação da qualidade do ensino em todos os níveis, segundo os tecnocratas - ops,  técnicos - governamentais! O futuro chegou! Após quase duas décadas de governos à “esquerda” somos a 6ª economia do mundo e o 84º IDH – só o PT já é uma década e o PMDB.... desde Cabral (não aquele carioca que gosta de bailar em Paris)!  Desculpe o Chico de Oliveira, mas, tenho que inverter a sua afirmação: o pessimista é que é um otimista mal informado, afinal, o pior cego é aquele que não quer ver! Finalizando, vou aderir ao novo Movimento pela Paz e contar até dez, ou vinte, ou mil.....pena que eu seja sociólogo e pouco afeito a números.

Nenhum comentário:

Postar um comentário