Há três anos eu estava só. Ainda estou só. Sem saber o que
fazer. Indo, voltando, errando. Morrendo dia após dia. Minha vida é um hoje
infinito. Tudo o que tenho é nada e isso é o que me basta e importa. Nada mais
quero porque nada mais me importa. Que importa o futuro ou as ideias? As teses,
teorias, prestigio, status, poder? Que poder? Saber? Vaidade? Rilke, Galeano, Giddens, Marx, Bobbio, Goethe, Shakespeare, Gramsci, Maquiavel, Graciliano, Machado, Foucault não fazem um homem, uma família. Nenhuma paz ou amor. Estou condenado
ao presente e aspiro ao passado. Minha razão esvai. Minha fé esvaiu. Minha vida
perdeu-se. Perdi a alma, a fé, a alegria, o amor, a esperança. Não passo de uma
reles criatura, não sou, fui. Tenho desprezo pela minha vida e por tudo que sou
e acreditei. Acreditei no saber, na razão, na política, nos homens, em mim, em
deus. Dediquei a minha vida a verdade e a sociedade. Perdi tudo para a vaidade,
a mentira, a hipocrisia, a covardia, a ambição. Revoltei-me, frustrei-me,
entreguei-me. Abandonei-me e negligenciei aqueles que amo. Quando percebi
estava só em uma cama vazia de um quarto escuro. O leito ainda é vazio e o
interior sombrio.
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