"Quando o governo viola os
direitos do povo, a insurreição é, para o povo e para cada porção do povo, o
mais sagrado dos direitos e o mais indispensável dos deveres" Babeuf
Eric Hobsbawn afirmava que o século
XIX foi o mais longo da história recente, iniciando-se com a Revolução Francesa
– ou seria a americana? – e terminando com a Grande Guerra (1914-1918).
Revolucionários é também o título de um seu livro, mas, não é disso que trata
estas linhas. Penso nos homens e a historia. Nas revoluções e os seus artífices
e mártires.
Na França, desde fins do século XVIII
as ruas assaltam o poder. A história
burlesca pinta de sangue a Revolução e o período que se inicia em 1793 –
“Terror.” O sans-culotismo era radical demais para a burguesia aristocrática. As
atrocidades cometidas nas guerras, pela igreja e a nobreza não aterrorizavam
porque não atingiam a aristocracia. O sangue do pobre não aterroriza. Maior que
o “terror” despertado pela guilhotina era o horror pelo Terceiro Estado e a
Comuna Insurrecional de Paris. Pela igualdade política, poder popular e o reconhecimento
de direitos estabelecidos pela Constituição Jacobina de 1793 – educação e
assistência publicas, sufrágio universal (homens maiores), reforma agrária, fim
da escravidão nas colônias, lei do máximo e do mínimo, tribunal revolucionário.
O golpe de Estado armado pela alta
burguesia financeira que viria a seguir – Reação Termidoriana – decretaria o
fim da participação popular no movimento revolucionário, extinguindo o partido
jacobino, executando de forma sumária os seus principais lideres – Robespierre,
Saint-Just -, abrindo caminho para a ditadura de Napoleão. Por outro lado, a
violência do golpe impõe a resistência novas lideranças e estratégias de
organização e luta das classes populares. Assim, em 1794 Babeuf funda “A
Tribuna do Povo” - inspirado no “Amigo do Povo” de Marat – e, em 1795 a
Sociedade dos Iguais, defendendo abertamente a "insurreição, a revolta e a
constituição de 1793". No Club électoral - clube de discussões dos sans-culottes
- fala em favor das mulheres, defendendo o seu ingresso na política. Atacava numa
perspectiva socialista as ações econômicas da Revolução. Na prisão conhece
revolucionários radicais e terroristas – como Lebois, editor do Jornal da
Igualdade e do Amigo do Povo. Quando sai da prisão é um revolucionário
terrorista, convicto de que quem não tem o direito de interferir ou participar da
vida publica e política - os pobres - também não estão obrigados a cumprir a
lei e a servir o Estado. Essa posição leva-o a criar com o italiano Buonarroti
a Sociedade dos Iguais – socialistas e jacobinos - conspirando contra o
governo, com o objetivo de continuar a Revolução, garantir a coletivização das
terras em busca da "igualdade perfeita" e do "bem comum". Preso
por conspiração em 1796, afirmava apenas cumprir o artigo 35 da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão de 93. Foi guilhotinado no ano seguinte.
Pelos seus ideais socialistas, Marx considerava François Babeuf o “primeiro comunista ativista” e a Sociedade dos Iguais o
"primeiro partido comunista". Rosa Luxemburgo considerava-o "o
primeiro precursor dos levantes revolucionários do proletariado." Estava
aberto o caminho para os revolucionários que construiriam as sociedades e entidades de luta dos pobres e do proletariado nos séculos
XIX e XX.
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