quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014
Lembranças....
As lembranças escapam como as palavras. Fugazes, imprecisas, indiferentes. Elas apenas vêm, como a noite após o dia. Acomodam-se a um canto. Presas entre os dentes. Lamento, soluço, suspiro. Da memória, do coração, dos olhos. De mãos dadas ela corre comigo sob os muros. Ela voa em meus braços. Ela ri. Adormece em meu peito. Ela senta ao meu lado e me olha. Tudo o que poderia ser dito, todas as verdades do mundo, todos os mistérios do universo, tudo o que vale a vida e não cabe em palavras ela me diz com um olhar. Ela não pode pronunciar uma frase. Ela pode mais. Hoje ainda não posso encara-la, não sei dizer-lhe, só sei sentir. Espero-a com a serenidade dos insensatos e o desespero dos piedosos. Ela vêm e vai. Acaricia-me a face, suave e úmida. Lava-me a face e a alma. A noite e o céu e tudo o que habita embaixo dele.É tudo sempre movimento e eterno. E eu nunca sou o mesmo. O mundo a meus pés, trago o infinito em mim e a eternidade no coração. E tudo me escapa, tudo deixo. Quando ela se vai não sou mais o mesmo. Vai se contigo um momento perdido no tempo da memoria, escondido nas frestas do coração. Arrasta o que restou de mim e do meu mundo, aquilo que fui e pertencia sem me pertencer. Agarro-me a uma unica lembrança borrada, um único sorriso, um único dia cristalizado no coração esvaindo-se na memoria. A lembrança daquilo que poderia ter sido, não foi, não fui... . E ela ri, corre, chora, me abraça. E a unica lembrança é a do que não fomos.
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