Em 2014 fez 50 anos do Golpe de Estado Civil-Militar que culminou com a deposição do Presidente João Goulart, levado a cabo com o apoio e incentivo dos EUA. Assim, é importante refletir sobre algumas passagens históricas relevantes que caracterizam as Forças Armadas do país.
Guerra do Paraguai (1864 - 1870): Embora tenham-se reunido Brasil, Argentina e Uruguai para lutar contra o Paraguai, o maior efetivo em termos de contingente de tropas mobilizadas e em ação foram brasileiras. Cerca de 150 mil homens foram enviados a guerra pelo Brasil, totalizando aproximadamente 60 mil mortos entre militares e civis, vitimados em combate e por doenças. Conforme fosse uma sociedade de "barões" e "senhores" de um lado e escravos de outro, a população pobre e "livre" sobrevivia a margem dela e do Estado, portanto inexistia qualquer espírito nacional ou patriótico que vinculasse a população civil ao Brasil. Disso resulta o recrutamento violento e arbitrário e o envio de escravos e negros alforriados para a frente de batalha. Razão pela qual o Marques de Caxias - depois Duque -, exigia das tropas a obediência de um escravo.
Cadáveres paraguaios. |
Revolta Federalista ou "Revolução das Degolas" (1893 - 1895): Conflito de caráter político entre os federalistas e os republicanos do Rio Grande do Sul. Devido o caráter político do conflito, logo expandiu-se por toda a região até alcançar dimensões nacionais. Nesse contexto e diante das hostilidades iniciadas pelos federalistas e do seu avanço, a União envia tropas em apoio ao governo gaúcho dos republicanos. As vitórias federalistas avançam pelas fronteiras gaúchas, alcançando Santa Catarina e o Paraná. O confronto politico regional toma dimensões de Golpe de Estado e o "Marechal de Ferro" é severo na repressão. A contabilidade macabra estima em pelo menos 10 mil mortos e incontáveis feridos. A prática da "degola", herança do Paraguai, torna-se procedimento corriqueiro entre as forças militares em combate. Registram-se os massacres e excessos em batalhas como as do Rio Negro e o Combate do Boi Preto, que rivalizavam e celebrizaram os "degoladores" Latorre e Cherengue. Conta-se que precediam a degola as torturas, humilhações e zombarias, quase sempre acompanhado-se antes da castração do prisioneiro rendido e indefeso.
Crianças levadas de Canudos como troféus de Guerra. |
A recém instaurada Republica precisava tanto se autoafirmar quanto testar as tropas - Republica resultante de um Golpe de Estado militar sem tiros e sem povo -, bem como evitar qualquer tipo de ameaça interna ou externa e revoltas de caráter monarquista ou separatista. Euclides da Cunha era ex-militar, engenheiro e jornalista, cobrindo a guerra de Canudos pelo jornal O Estado de São Paulo. Quando foi ao arraial de Canudos tinha convicção de que se tratava de um levante monarquista. A distância das capitais e dos grandes centros do sertão e interior do país marcava-se não apenas geograficamente, sobretudo, econômica e culturalmente. O resto da historia é conhecida e consta da sua obra épica "Os sertões" - denuncia contundente da miséria e abandono do sertão, da opressão e exploração no campo e da violência cruel e covarde do exercito contra o povo sofrido, forte e corajoso. Em 10 meses de combates após o primeiro ataque militar, estima-se em 25 mil o total de mortos no confronto, 3/4 das baixas somente entre os civis. A época o contingente do exército brasileiro era de aproximadamente 25 mil soldados e, contra Canudos metade dele foi mobilizado. No ultimo ataque os militares incendiaram todo o povoado, assassinando grande parte da sua população, degolando os prisioneiros homens. Consta que os sertanejos acreditavam na crença de que se o homem fosse morto passado no fio da espada, a sua alma não alcançaria o céu, permanecendo vagando pela terra, assim, impregnados de extrema crueldade, os soldados do exercito os assassinavam atravessados pela espada ou degolando-os - com o evidente objetivo também de poupar munição.
Prisioneiros (crianças) no Contestado. |
Eis algumas das obras do glorioso Exercito Brasileiro - "braço forte, mão amiga". Orgulho nacional, protetor do povo, defensor da pátria! O resto é história recente sobre os milhares de presos, torturados, perseguidos, exilados, desaparecidos e mortos no Estado Novo e na Ditadura de 64/85, passando pela intervenção militar brasileira no Haiti, os milhões de assassinados pelo Estado na "democracia" e a recente "pacificação"- ocupação militar das comunidades cariocas pelas Forças Armadas e de segurança. Porque os fatos são verdades históricas, a despeito da farsa oficial repetida pelo Estado autoritário e do revisionismo imposto pelos donos do poder.
Referencias
ESCOBAR, Wenceslau. Apontamentos sobre a Revolução de 1893.
QUEIROZ, Maurício Vinhas de. Messianismo e Conflito
Social – A Guerra Sertaneja do Contestado: 1912/1916.
CUNHA, Euclides. Os Sertões - Campanha de
Canudos.
https://www.youtube.com/watch?v=gGcMuGxTf_A
Cruz dos Degolados - São Martinho da Serra (RS). |
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