segunda-feira, 21 de julho de 2014

Memórias do frio.

Me recordo dos cuidados. A casa, as roupas, o alimento. Quanto amor não cabe em palavras e se ignora? Em cada gesto uma declaração de amor contundente - perene, sutil, sublime. Todo dia elas se declaravam. Eu não era capaz de perceber. Era incapaz de conceber o amor. Sequer podia imagina-lo, compreende-lo, aceita-lo. Eu não tinha amor e por isso o dispensava.

A casa era amor e carinho. De modo que jamais sonhei ou imaginei e me foi concedido sem possuir a grandeza necessária para contemplar a graça. A dádiva não é conquista. Não é escolha. Nem mérito ou aprendizado. Arrebata, fulmina, acalenta. Transcende a razão. Não se entende nem se explica. Basta viver. Como a flor que dispensa razões pra encantar, apenas se entrega, dá, renuncia e é tudo.

Aquele velho petulante e insensato que os tolos, covardes ou soberbos pretendem domesticar, enquadrar e manipular. Cálculos, juízos, formulas, sentenças, estudos, acordos. Mercadores, negociantes, executivos, intelectuais, alquimistas. Não é da ordem das ciências, tampouco dos negócios ou da escolástica. 

Recordo-me das paredes frias, o ar gelado e o céu infinito do inverno. Do calor vivo da casa. Do olhar, o toque, o sorriso que irradiavam calor. A vida é isso. E a morte é o frio e a incapacidade de amar.





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