sábado, 20 de dezembro de 2014

Elogio a insensatez.

Eu reitero o meu ódio! O ódio que alimenta a minha indignação, repulsa, resistência. Ódio ao homo-faber, homo-sapiens, ecce-homo. Repudio a riqueza, a razão, o status, a fé, o poder! Há sabidos demais no mundo, deuses demais nos céus, senhores demais sobre a terra! Toda a riqueza do mundo jaz sob misérias incontáveis e aviltantes! Toda o poder repousa sobre violências indizíveis e repugnantes! Toda a razão assenta-se em coação e arbítrio! O meu ódio é uma revolta, uma angustia, um lamento. O meu ódio é uma dor, um gemido, um torpor. Um vazio, um silencio, uma renuncia. Resiliente, resistente, consciente, consistente, persistente. Eu não tenho pouco ódio, é muito! Excessivamente e em demasia! Salta aos olhos, exala pelos poros e escorre pela boca! Não sou louco, apenas rejeito a razão e a moral! Alias, não apenas rejeito-as, repudio, desprezo, odeio. A hipocrisia, a acumulação, a exploração, a vaidade, o orgulho, a caridade, a compaixão, a soberba, a ganancia, o egoísmo, as certezas. Sou da espécie da dúvida, da incerteza, da instabilidade, da infelicidade, da inépcia, da indecência, da impotência. Não! Eu não celebro a vida, não aprecio o luxo, deprecio o refinamento e o bom gosto, repudio os bons hábitos, bons costumes, as pessoas de bem e acima de tudo detesto o poder! Detesto os sóbrios e comedidos, os razoáveis e prudentes tanto quanto os afetados, infalíveis, afáveis e piedosos! Insultei todas as tradições, divindades, ritos, liturgias, formalismos, regras, hierarquias, convenções. Expus-me a todas as intempéries e abismos. Cortei a própria carne e cavei as feridas até o osso. Ignorei a paz, o amor, o conforto, a segurança, o status. Cortejei o caos, a miséria, o fracasso, a morte, o medo, a loucura. Inundei o leito, esvaziei o peito, lavei a face e as mãos. Soprei a vida, inebriei-me com a fumaça, desencontrei-me e perdi. A luz eu guardo no olhar, o amor carrego no peito, renunciei a verdade e as certezas, nada tenho e o mundo é o bastante. O mais pertence ao futuro, aos ousados, revoltados, resistentes e petulantes..... 

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