Todo mês o
parlamento municipal de Natal promove uma Sessão Pública nos bairros. Trata-se
de um expediente institucional, organizado e conduzido pela casa parlamentar e
vereadores determinados. Parlamentares, assessores, chefes de gabinete,
cerimonial, TV Câmara, autoridades publicas diversas – secretários, técnicos,
magistrados, militares, etc. Entidades comunitárias, associações de moradores, organizações
diversas, coletivos, ONG’s previamente escolhidas e moradores convidados.
Cenário, figurino, elenco, roteiro e script preparados. Pauta previamente
definida, interlocutores escolhidos, tudo preparado para a encenação.
Apresentações,
cerimônias, mesuras, bajulação ad nauseaum. É próprio da farsa o palavrório e a
pompa, a enrolação e a manipulação, a liturgia, a retórica e a oratória – nenhuma espontaneidade, nenhum improviso,
tanto nos gestos quanto nas palavras. Os protagonistas são profissionais da
política – é meio, não fim. Os
coadjuvantes são os ambiciosos aspirantes – não há lugar para amadores. Ao
publico cabe apenas o silencio submisso e respeitoso, o aplauso complacente e solidário
e a palavra subserviente e moderada.
O senhor Luiz
Almir é um homem do povo! Apresentador de televisão; profere diariamente
sandices, preconceitos e futilidades em profusão e escala, típicos do senso
comum mais rasteiro e medíocre. Décadas como parlamentar o fez perspicaz no
jogo retórico-demagógico, imprescindível na manutenção da imagem que o faz popular
na sociedade. Assim, misto de artista e politico, promove festas, shows,
eventos diversos em comunidades divulgando-as nos meios de comunicação em que
atua – inclusive a tribuna -, sempre ressaltando a importância desse seu
trabalho “social” gratuito.
Já o assessor
parlamentar e burocrata da Câmara informa: “Sessão Popular apenas com a benção
de algum vereador da casa.” Trocando em miúdos, apenas acontecerá, caso seja
encaminhada ao parlamento por um vereador. Questionado sobre o fato do
Regimento Interno da casa sustentar que conforme o Artigo X do Paragrafo Y
estabelecem, qualquer munícipe pode pleiteá-la, protocolando o pedido junto a
Secretaria Legislativa, tergiversou afirmando que o referido documento está “desatualizado”
– embora conste do site da Câmara Municipal de Natal. Solicito, perguntou sobre
o bairro que o munícipe mora para em seguida dizer qual vereador deve ser
procurado. A um só tempo ensinou sobre como os parlamentares podem intermediar o
acesso ao legislativo e o poder público, colocando-se entre o cidadão e o
direito a cidadania, numa espécie de democracia autoritária e clientelista. Revelou
ainda a importância em se lotear uma cidade entre parlamentares, posto que os
mesmos não legislem para todos os munícipes, apenas para aqueles situados nos
currais eleitorais que controlam. Assim, devem se submeter e legitimar a sua
intermediação, alienando-se do direito a participação imprescindível ao exercício
da cidadania. Esse não é um relato de ficção, nem de uma época pré-democracia -
Carta de 88 -, nem de algum grotão deste imenso Brasil, é sobre o parlamento
municipal da cidade de Natal, capital do Estado do Rio Grande Norte no período compreendido
entre os meses de maio e julho desse ano.
Nenhum comentário:
Postar um comentário